O GRITO
Amanheceu um domingo ensolarado, naquele dia.
Levantei da cama, me vesti apressada, saí sem ao menos tomar o desjejum.
Tinha um compromisso ligado ao meu trabalho voluntário: proferir uma palestra. E, lá fui eu.
Dentro do carro, pelo caminho, fui olhando o sol deitando seus raios sobre as folhas das ávores, faceiras elas pareciam esmeraldas brilhando.
Já havia terminado minha apresentação.
Estava, ainda no local, conversando com três queridas amigas, passava das onze horas da manhã, o recinto antes lotado pelo público, agora estava vazio.
Trocávamos impressões, sobre o tema da palestra, quando o marido de uma delas, adentra o recinto.
Prontamente minha amiga foi ao encontro do seu companheiro de tantos anos.
Em seguida, um grito agudo, encheu o local de uma dor descomunal, e transpassou o nosso coração.
Corremos ao encalço da amiga. Não havia mais cor em seu rosto. Ela, só conseguiu nos dizer: "Ele morreu!!! Meu filho acaba de morrer".
Foi como se o chão se abrisse, e faltasse para todas nós, que ali estávamos. Eu, tão acostumada a usar a palavra, naquele momento, nada conseguia dizer.
Me lembro, que abracei-a com todo carinho que havia em meu coração, e fiquei assim, em silêncio.
Um acidente de carro, na manhã daquele domingo, matara o seu querido filho, de apenas 22 anos.
Claro, me dispus a ficar, ao lado de minha amiga, nessa hora tão dolorida, o tempo que fosse necessário.
Retornei para casa, apenas por alguns momentos, e pelo caminho, vi que o sol continuava pregado no céu, mas já não via brilho nele. Parecia que as árvores haviam perdido todas as folhas. O dia se fizera noite em meu coração.
No dia seguinte, na hora da cerimônia de cremação, a tristeza do adeus se fez mais punjente.
Minha boa amiga, fez-me um pedido, de delicada execução. Mas, como negar, a uma mãe que teve seu coração cortado ao meio, um pedido?
Pediu-me, que dissesse algumas palavras e em seguida fizesse uma prece, nos últimos momentos antes da cremação.
Me lembro, que minhas mãos tremiam, minhas pernas bambeavam. Minha garganta tão acostumada ao uso da palavra, travou.
Reunindo todas as forças, não me acovardei, afinal estava ali, para ser solidária a dor de um amorosa mãe, e uma grande amiga.
Em silêncio pedi, forças ao Criador, inspiração ao meu Anjo da Guarda, e a voz voltou. Me lembro, que do nada, a estória dos dois brilhantes, veio a minha mente.
Devagar, comecei a contá-la, entre lágrimas, e com a voz embargada.
- Havia um honrado rabino, que tinha esposa e dois filhos, já moços. Esse homem, seguia de aldeia em aldeia levando sua palavra de fé, exercendo sua ofício. Por isso, ausentava-se por semanas de seu lar.
Um dia, um grave acidente com a charrete da família, matou os dois rapazes, deixando a mãe aturdida diante de tanta dor.
Passado o choque, ela lembrou-se que a saúde do marido era precária, tinha o coração doente. E tratou de pensar, o melhor jeito de lhe dar a triste notícia.
Na tarde em que retornou, o bom homem, logo perguntou pelos queridos filhos, e ela desconversou, e disse a ele, que precisava lhe contar algo.
E, foi dizendo: - "Em sua ausência, pediram-me para cuidar com muito zelo, de dois brilhantes de valor inestimável, até o momento de devolvê-los. Pois bem, esses dias, vieram buscá-los, mas tem sido difícil, eu aceitar, viver sem eles".
O rabino então respondeu: - "o que é isso mulher! não podemos ficar com o que não nos pertence. Devolva sem lamentar os brilhantes, do qual você, não era dona, mas, sim guardiã".
Ela, então, com os olhos rasos d'agua, disse ao rabino: - "pois eu já devolvi. Essas joias, são os nossos filhos, que Deus nos deu para zelar e cuidar, e agora resolveu, que era hora de levar de volta".
Até hoje, quando me lembro daqueles momentos de tristeza, agradeço a inspiração do alto, por ter me soprado essa estória, que eu li há tanto tempo atrás, nem sei em que livro.
Chorando muito, ao final da prece, minha amiga me abraçou e disse-me, que aquela lição de desapego contida na estória, seria para ela, como uma mão invisível, a ajudá-la, a não se deixar naufragrar na dor imensa por que passava.
Esse fato, ocorreu, em um domingo, de um ano, que já se faz distante no calendário. Mas nunca se fará distante em minha alma.
(Imagem: Lenapena- Florestas em Ithaca)
Amanheceu um domingo ensolarado, naquele dia.
Levantei da cama, me vesti apressada, saí sem ao menos tomar o desjejum.
Tinha um compromisso ligado ao meu trabalho voluntário: proferir uma palestra. E, lá fui eu.
Dentro do carro, pelo caminho, fui olhando o sol deitando seus raios sobre as folhas das ávores, faceiras elas pareciam esmeraldas brilhando.
Já havia terminado minha apresentação.
Estava, ainda no local, conversando com três queridas amigas, passava das onze horas da manhã, o recinto antes lotado pelo público, agora estava vazio.
Trocávamos impressões, sobre o tema da palestra, quando o marido de uma delas, adentra o recinto.
Prontamente minha amiga foi ao encontro do seu companheiro de tantos anos.
Em seguida, um grito agudo, encheu o local de uma dor descomunal, e transpassou o nosso coração.
Corremos ao encalço da amiga. Não havia mais cor em seu rosto. Ela, só conseguiu nos dizer: "Ele morreu!!! Meu filho acaba de morrer".
Foi como se o chão se abrisse, e faltasse para todas nós, que ali estávamos. Eu, tão acostumada a usar a palavra, naquele momento, nada conseguia dizer.
Me lembro, que abracei-a com todo carinho que havia em meu coração, e fiquei assim, em silêncio.
Um acidente de carro, na manhã daquele domingo, matara o seu querido filho, de apenas 22 anos.
Claro, me dispus a ficar, ao lado de minha amiga, nessa hora tão dolorida, o tempo que fosse necessário.
Retornei para casa, apenas por alguns momentos, e pelo caminho, vi que o sol continuava pregado no céu, mas já não via brilho nele. Parecia que as árvores haviam perdido todas as folhas. O dia se fizera noite em meu coração.
No dia seguinte, na hora da cerimônia de cremação, a tristeza do adeus se fez mais punjente.
Minha boa amiga, fez-me um pedido, de delicada execução. Mas, como negar, a uma mãe que teve seu coração cortado ao meio, um pedido?
Pediu-me, que dissesse algumas palavras e em seguida fizesse uma prece, nos últimos momentos antes da cremação.
Me lembro, que minhas mãos tremiam, minhas pernas bambeavam. Minha garganta tão acostumada ao uso da palavra, travou.
Reunindo todas as forças, não me acovardei, afinal estava ali, para ser solidária a dor de um amorosa mãe, e uma grande amiga.
Em silêncio pedi, forças ao Criador, inspiração ao meu Anjo da Guarda, e a voz voltou. Me lembro, que do nada, a estória dos dois brilhantes, veio a minha mente.
Devagar, comecei a contá-la, entre lágrimas, e com a voz embargada.
- Havia um honrado rabino, que tinha esposa e dois filhos, já moços. Esse homem, seguia de aldeia em aldeia levando sua palavra de fé, exercendo sua ofício. Por isso, ausentava-se por semanas de seu lar.
Um dia, um grave acidente com a charrete da família, matou os dois rapazes, deixando a mãe aturdida diante de tanta dor.
Passado o choque, ela lembrou-se que a saúde do marido era precária, tinha o coração doente. E tratou de pensar, o melhor jeito de lhe dar a triste notícia.
Na tarde em que retornou, o bom homem, logo perguntou pelos queridos filhos, e ela desconversou, e disse a ele, que precisava lhe contar algo.
E, foi dizendo: - "Em sua ausência, pediram-me para cuidar com muito zelo, de dois brilhantes de valor inestimável, até o momento de devolvê-los. Pois bem, esses dias, vieram buscá-los, mas tem sido difícil, eu aceitar, viver sem eles".
O rabino então respondeu: - "o que é isso mulher! não podemos ficar com o que não nos pertence. Devolva sem lamentar os brilhantes, do qual você, não era dona, mas, sim guardiã".
Ela, então, com os olhos rasos d'agua, disse ao rabino: - "pois eu já devolvi. Essas joias, são os nossos filhos, que Deus nos deu para zelar e cuidar, e agora resolveu, que era hora de levar de volta".
Até hoje, quando me lembro daqueles momentos de tristeza, agradeço a inspiração do alto, por ter me soprado essa estória, que eu li há tanto tempo atrás, nem sei em que livro.
Chorando muito, ao final da prece, minha amiga me abraçou e disse-me, que aquela lição de desapego contida na estória, seria para ela, como uma mão invisível, a ajudá-la, a não se deixar naufragrar na dor imensa por que passava.
Esse fato, ocorreu, em um domingo, de um ano, que já se faz distante no calendário. Mas nunca se fará distante em minha alma.
(Imagem: Lenapena- Florestas em Ithaca)