Redes sociais: qual o limite entre o público e o privado?
As relações interpessoais configuram uma das principais necessidades humanas. Pertencer e ser aceito em um grupo é questão de sobrevivência desde nossa época das cavernas. E por falar nisso, seriam as redes sociais uma espécie de "mito da caverna moderno"? Qualquer semelhança (e alienação) não é mera coincidência.
Observamos há algum tempo através da mídia shows de realidade (?) nos moldes de zoológico humano. Parece que acompanhar a vida alheia exerce certo fascínio e curiosidade para algumas pessoas. Da mesma forma, a exposição em redes sociais também segue a mesma premissa, com uma boa dose de exibicionismo e voyerismo. A pergunta que não quer calar: por que em tais redes as pessoas partilham aspectos tão íntimos e pessoais da própria vida de forma tão comprometedora? Será que a banalização da vida alheia nesses "shows de irrealidade" nas mídias se incorporou à sociedade, fazendo-nos desvalorizar e tornar impessoal coisas tão pessoais e íntimas?
Pesquisas recentes apontam que as redes sociais causam depressão. Não é difícil imaginar porque isso ocorre. A impressão que fica é que se vende um personagem criado para interagir virtualmente, projetando uma versão a qual é aceita: "a melhor versão de si mesmo". Na realidade virtual das redes sociais existe uma estética maravilhosa, tudo é belo, todo mundo é bonito, mega legal, as fotos são escolhidas a dedo: festas, baladas, viagens, família margarina, ostentação de aquisições materiais, tudo de acordo com o que é ditado socialmente. Muita superficialidade, demagogia e hipocrisia.
Possivelmente a necessidade humana de pertencimento, aceitação e amparo fundamente a exposição exacerbada a qual testemunhamos tão displicentemente nas redes sociais. O homem possui uma condição fundamental de desamparo existencial e traz consigo a consciência da insignificância da própria existência, direcionando-se para a tentativa desesperada de dar sentido para uma realidade sem sentido, em busca de enquadramento e acomodação ao caos dos padrões vigentes e às regras e demandas estabelecidas socialmente. A noção do absurdo da vida clama pela necessidade imperativa de exposição, a qual se expressa nas entrelinhas afirmando que pertencemos a uma realidade aceita e aclamada. Precisamos ser aprovados, admirados e "curtidos". Porém, será que quem realmente importa está "se curtindo"? Parece que as pessoas estão o tempo todo tentando se justificar, seja através da demonstração de amor, desafetos, desabafos, conquistas, tristezas e alegrias, as quais, muitas vezes, culminam em uma exposição desnecessária e constrangedora. Desenvolvemos certa familiaridade e dependência do mundo virtual, principalmente, as gerações mais jovens. Entretanto, urge a consciência de que não estamos na sala de espera de casa, e sim, em um ambiente imparcial. O anseio de ser acolhido não deve e não pode justificar atitudes inconsequentes.