A JOGADA
A JOGADA
Futebol, paixão nacional, estádio cheio, torcidas barulhentas, jogo difícil, ânimos exaltados, jogo duro. Jogo duro de jogar, difícil de se ver, difícil de se compreender, um jogão. Torcidas se provocando, jogadores se xingando, juízes intervindo;
Engraçado, em futebol não há um juiz, mas um árbitro e três interventores; dois bandeiras e um reserva, além é claro, do delegado da partida. Levando-se em consideração que o árbitro é chamado de juiz, o futebol é o único lugar onde um “delegado ” é maior que um juiz.
Voltando ao jogo, os dois times em campo, jogadas ríspidas, mais xingamentos, empurra –empurra, juiz gritando, cartão amarelo: um, dois, três, quatro cartões; dois pra cada lado e a briga termina -ao menos por enquanto.
Em campo, após levar um dos cartões por mostrar a perna roxa pro juiz, Gerard, o craque do time, chama o jovem e promissor meia direita. Tom, ouve atento as orientações do craque, posicionando-se conforme as mesmas. Recua um pouco, lado oposto ao seu “lado bom”, meio sem graça, meio sem ginga. De repente, Gerard recebe um passe curto de Marquinho, toca pra Gustavo, abre pra direita, recuando dez metros em relação à bola; orientando o meio de campo, ele sinaliza pra Marquinho que recua a bola pro zagueiro Betão que empurra pra Loiro, o lateral parte com a bola em velocidade pela direita, e; quando cercado por três jogadores adversários, toca rapidamente pro meio, pra trás, onde surgindo do nada, o craque do time recebe, ajeita e faz um lançamento em profundidade exatamente ao local do campo em que ele costuma jogar, onde ele costuma receber passes e fazer as jogadas pro ataque. Pic-nic, o meia de contenção especialista em marcação, estava deslocado pro meio de campo, seguindo de perto a Gerard, cumprindo a sua missão: Não deixar Gerard sozinho; Lipe, o lateral direito, ao ver o craque recuar, aproveitou pra atacar e tentar levar seu time ao sucesso na partida e naquele momento ajudava a armar o pentágono de marcação de seu time, onde quem estiver perto ajuda a marcar, para que hajam sempre cinco no meio-campo, sufocando o time adversário.
A bola subiu, armando um arco ascendente, depois descendente até ultrapassar trinta e dois metros, quando apareceu do nada, rompendo como uma flecha o jovem atacante Tom; livre de marcação, vigoroso em sua jovem musculatura de vinte anos, como um tordilho velocista toca na frente, ajeita, corrige, passadas largas, velocidade e um Bolt; o triangulo de cobertura do time adversário entra imediatamente em ação; correm os zagueiros Turíbio e André, e o segundo volante De silva enquanto o lateral esquerdo Lira, um veterano corre fechando o meio na cobertura. André, chega primeiro, sendo imediatamente envolvido com um toque de trivela do pé direito(o bom), toque este, que permitiu a Tom dar-lhe o drible da vaca ou meia lua, chegando assim à entrada da grande área, quase dividindo com Turíbio, e De Silva posicionando-se pra pegar a sobra; o pé de Tom chega primeiro, o pé esquerdo, o que não é o bom, mas ele chegou com alguma folga, o suficiente pra bater de prima, lado de dentro do pé, parte de baixo da bola que subiu.
Marcelo Gatto, olhando a jogada, ameaçou sair do gol, fechar o ângulo do primeiro pau, porém ao notar que a bola passaria do mesmo, tentou ajeitar, reprogramar a saída de gol, mudou a direção para a marca do penalt, onde vários jogadores dirigiam-se uns par acabecear em direção ao gol, outros para tirar a bola dali. Fosse pra fora. Fosse pra frente, fosse pra um dos lados. Todos olhavam pra cima, a torcida dos dois lados se movimentavam em gritos alucinados em posições antagônicas gritavam, era ensurdecedor; um lado desejando o gol e o outro desejando a defesa; todos olhavam pra baixo .
A bola, nesse momento o ser mais importante do jogo subiu, em arco ascendente, girando, direção à marca do penalt, girando, girando, girando, um novo arco se armando, descendentemente armando uma nova trajetória em sentido contrário ao de sua subida...
Gatto desesperado tentando voltar, Lira, saltando no “segundo pau” e tentando cabecear, fazendo a cobertura do goleiro; nesse momento não há triangulo, nem há mais pentágono, nem losango e nem nada; há desespero, há torcida, há pânico generalizado na defesa adversária.
De punhos cerrados, Gerard torce pelo triunfo, Mario, Caio, Thiago, Gustavo, Marquinho e Betão acompanham o lance estupefatos, todos torcem. A bola, enfim é a figura principal. Heroína ou vilã? Depende do olhar... mas ela segue, segue, desce, desce... cede à preção do vento e cai.
O silêncio gerado por quatro segundos de estupefação foi algo cinematográfico. O que se viu em seguida foi uma profusão de acontecimentos distintos, foi gooooolllllllllllllllllllll. Um golaço do garoto Tom, que chorando foi abraçar primeiro o mestre que lhe cantara a jogada, de repente, ele beija o anelar como se beijasse um anel que (ainda) não existe e o resto, só felicidade; os companheiros o abraçam em profusão, tapas na cabeça e nas costas, ele sufocando resolve correr em direção ao banco de reservas para agradecer ao técnico por sua confiança em seu trabalho onde mais colegas o abraçam...
No meio de campo, uma figura solitária sorri, enquanto aproveita o minutinho pra ganhar fôlego; exausto, sentindo o peso do jogo e da idade um pouco avançada em relação ao grupo em campo(é o que tem mais idade, 19 anos mais velho que o mais novo em campo), ele olha aos céus, agradece à DEUS e se prepara para continuar a sua rotina...
&&&&&&&&&&&&&&&&H.F.Costa&&&&&&&&&Em 28/09/2013&&&&&&&&&&