A Marca da Revolução
Podemos culpar os Estados Unidos por muita coisa que tem acontecido, não só em nosso país como na América Latina ou no mundo. Mas não podemos culpá-los pelo que aconteceu ontem à noite em frente à Câmara dos Vereadores no Rio de Janeiro. Onde um professor, completamente indefeso, foi espancado por quatro ou cinco policiais militares durante um bom tempo. Gente que sabe bater. Em gente que não precisava apanhar.
Dignas do tempo da ditadura, regime militar implantado a partir de 1964 e que durou por eternos 20 anos, as cenas foram gravadas e levadas ao ar pela TV ontem mesmo.
Podemos admitir que a subversão da ordem não deva ser tolerada. Mas não podemos aceitar que a exacerbação da truculência seja a prática usual da repressão.
O regime militar aqui implantado em 64 teve a sua concepção fora de nossas fronteiras, como o que hoje se sabe. Extremamente truculento, cruel, violento e assassino, foi combatido, até onde se teve a oportunidade, por setores progressistas e mesmo por aqueles que o aprovaram no início.
Dentre os que combateram a ditadura, encontram-se pessoas no atual governo federal, a começar pela presidente da República, cujos laços com o governo do Estado do Rio hoje são mais consistentes. Como nos mostram as inaugurações, entrevistas e eventos veiculados pela mídia.
Torna-se, portanto, estarrecedor imaginar que a ocorrência dos lamentáveis fatos de ontem tenha tido a permissão ou conivência de autoridades que tantas vezes os condenaram no passado recente. Com o objetivo de por fim ao flagrante desrespeito a uma falta de liberdade combatida, inclusive, por meio de empreendimentos guerrilheiros.
Uma coisa é uma revolução ser importada. Como aconteceu, na mesma época, não só com o Brasil, mas também com os países do chamado Cone Sul. O que mereceu o repúdio do mundo. Outra coisa é o que podemos fazer diante desse fato.
Ou o que fizemos, isto é, levando ao fim o arbítrio, ou aquele período negro da nossa história. O que pensávamos ter conseguido, na medida em que fatos como os de ontem nos enchem de dúvidas.
De qualquer maneira, parece-nos que essa é uma forma de independência. Isto é, embora não se possa generalizar, os países desenvolvidos se esmeram no desenvolvimento de ações que levem os subdesenvolvidos a permanecer como estão. Não se trata, é claro, de domínio do fato, mas do domínio em si. O que pode até ser natural. Só não é natural que aceitemos com parcimônia ou passividade essa realidade.
E necessariamente um modo de mostrarmos a nossa disposição será combatermos com vigor, seja como for, até com o uso da palavra, o ressurgimento da violência como forma de se manter a ordem. Pelo restabelecimento da liberdade e da independência. Primeiro aqui dentro. E depois em relação ao que não estiver dentro de nossas fronteiras.
Maricá, 29/09/2013