E a cultura?

Gostaria imensamente de poder argüir os nossos parlamentares sobre o que eles têm feito para a nossa cultura, de uma maneira geral. Saber de seus projetos, tanto nesta, quanto nas passadas se assim for o caso, legislaturas. Jovens mascando chicletes e pronunciando o desfavorável “com certeza”, encontramos em toda esquina que cruzamos. Mas, inauguração de bibliotecas públicas é como enterro de anão, muito difícil de ver-se.

Assistimos a discursos vergonhosos de alguns, outros nem falam de tanta carência frente à Língua Portuguesa e outros tantos possuem assessores que elaboram, do figurino aos discursos. É uma pena que nosso país esteja perdendo a chance de formar uma geração de leitores, já não digo tão críticos, mas bons leitores e que não o sejam apenas dos jornais e revistas sensacionalistas.

Monteiro Lobato e outros grandes escritores que olhavam para o público jovem não são vistos mais enchendo o dia-a-dia de leitores nas escolas públicas e privadas. Há uma nova leitura que informa, mas que não encanta. Os lindos contos de fada infantis do passado fazem falta, hoje, sim.

Sonhar é mais que preciso, Papai Noel, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria são textos que não podem morrer jamais. Há o tempo de sonhar e um outro de aprender a realidade.Fazer uma historieta ensinando a uma criança de nove anos a saber o que é camisinha, acho, não seja uma boa maneira de fazê-la sonhar ( sonhar? ).

Criança deve ler os sonhos de criança, adolescentes os seus, bem diferentes dos daqueles. Os adultos que crescem com o doce hábito da leitura, esses estarão bem mais próximos da intelectualidade e daí, da sabedoria.

Quando eu era criança, lembro-me muito bem, havia em minha casa uma coleção com 12 volumes grossos e muito bem encadernados e ilustrados. Chamava-se “O Mundo da Criança”. Minha saudosa mãe, por tantas vezes, pediu-me, com suas mágicas palavras, que eu lesse seus contos, o que eu fazia como se pusesse na boca goiabada com queijo. Ela me chegava mansinha, voz sedosa, com carinho e dizia: “Quando você for grande, vai saber o quanto foi bom ter lido esses livros”. E assim eu cresci nesse ambiente rico em leituras e hoje não consigo passar sequer um dia sem ler um bom artigo, um bom livro, etc. A vida me apresenta mais prazerosa com as leituras que fiz e com suas releituras, hoje, o que me fez chegar mais próximo do amadurecimento como homem/cidadão. Tinha oito anos de idade quando declamei, pela primeira vez, Olavo Bilac. Até hoje me nutro com a poesia e até minha prosa é poética.

Aos meus filhos faço o mesmo. Oferto-lhes leitura de artigos, indico-lhes nomes de livros, dou-lhes outros e os meus, já que sou escritor. Eles lêem e criticam todos. São meus primeiros leitores de tudo o que escrevo. Lucraram tanto que meu filho mais velho, com 21 anos, já faz o quarto ano de Direito e minha filha, com 19 anos, o segundo de Medicina. Dou-me por satisfeito, embora continue orientando-os com novas leituras, porque, para mim, eles serão sempre sonhos meus, por quem devo zelar com todo o carinho de minha alma bondosa de pai e educador.

A leitura – uma boa leitura – é uma maneira leal e justa de fazer uma criança tornar-se um grande homem, uma grande mulher. A leitura prepara e encaminha o cidadão para a vida adulta.

Exorcizo meus defeitos, doando a maior parte dos livros que publico, e formentando a leitura entre meus amigos. Com esse gesto, creio que estou debitando as amarguras e percalços de minha caminhada como pai, homem e cidadão, além de escritor, é claro. O saldo que fica é maravilhoso. O mundo sabe,a vida me entende muito bem!

O homem que não lê é como um pedinte andrajoso, morre enfurecido da higiene à sabedoria.A leitura é um ajuntamento de pedaços de sabedoria. Seu acúmulo é que oferta ao ser humano a grandiosidade de sua existência e o fulgor de brilho de sua cidadania. Os que não lêem não vivem a cada dia, como merecem. Agigantam apenas os desvalores que a vida lhes ofereceu. São os propícios aos males e ao despreparo. Ler é amar a vida e a si próprio.