Para raio de doido
Para raio de doido
Minha mãe dizia “acho que tenho para raio de doido!” e eu perguntava:” porque mãe???” e ela, do alto de sua sabedoria devolvia:” meu filho, olhe para os lados e veja que só entra doido nessa casa...” Eu hoje entendi e acho que herdei o tal” para raios”. Vamos aos fatos: lá em casa o meu pai era um homem que gostava de plateia, se achava o mais bonito, mais inteligente, mais rico, mais mais, etc... A minha mãe era uma diplomata e conhecia com quem vivia, fazia suas concessões e “administrava” o problema (ele), uma sábia... E como já dizia meu saudoso professor de judô o De Lucca: “a melhor defesa é o ataque!” Ela absorvia e agradava os visitantes, que muitos eram, a adentrar uma casa no Alto da Boa Vista, isolada. E vinham os artistas, os bêbados, os cultos e muita loucura, que regada a bons whiskys viraram a noite com músicas e uma feijoada as quatro da matina para expulsar os invasores. Depois fui morar em Ipanema, frequentando o Píer em frente da Farme de Amoedo; bem amigos, a coisa piorou muito! Ô lugarzinho prá ter doido! Os malucos estavam desta feita, nas ruas. Era “chique” ser maluco, nos anos 70: todos de cabelos longos e, de preferência em cachos, calças apertadas e boca de sino, camisetas e as mulheres com aquelas bolsas que nada cabiam dentro, mas eram mais enfeitadas que loja no Saara perto do natal. Hoje existe a moda hippie-chique, nos idos anos que vos falo era só hippie mesmo! Muito rock e liberdade, isso chama os doidos enrustidos para as ruas! Minha irmã tem uma teoria que, comprovadamente, é verdadeira: “doido é que nem barata, quando esquenta muito elas saem para as calçadas” E olha que o Rio de Janeiro é quente! E tome doido nas ruas, no verão piora... Alguns subiam as escadarias da casa que ficava na esquina da Barão da Torre com a Farme de Amoedo, e lá eram acolhidos por ela (a diplomata) e por ele (o dono da verdade), ficavam por ali e de sobra eu absorvia alguns conhecimentos, que só quem ultrapassou a barreira da sanidade mental entende. Um amigo de sempre, Dr. José Otávio de Freitas Junior era um psiquiatra que sempre abastecia o lar com as loucuras que enfrentava no dia-a-dia do consultório. Uma boa estória era do cidadão que de tanto fumar tinha amputado uma perna e a família encaminhou o perneta para o saudoso J.O. consertar... Depois de algumas consultas o J.O. pegou pesado e disse: “Se você não parar de fumar vão cortar a sua outra perna!” O paciente, com toda calma respondeu” vai ser tão bom doutor, imagine eu sentadinho na cadeira de rodas só fumando... só fumando...” Que delícia, não é mesmo?
Seguindo a minha trajetória tive a felicidade de casar com uma mulher maravilhosa, mas como o tal “para raio” estava ligado veio, na carona da esposa, um caminhão de doidos! Tem prá todo gosto, do manso ao de sacudir pedra (e controle da TV também!) pela janela; do chorão ao mais alegre folião. Bipolaridade eu não conheço só TRI! O cabra acorda na fossa, almoça eufórico e fica rico, depois vai dormir mendigo... É TRI colegas, é tri-polar. Salve a seleção!!!!
Agora o tempo passou, estou achando que o para raio pifou e eis que de repente surge um gatinho aqui em casa! Não deu outra! O bicho é doido! Mas é um doido manso... Come mamão e é inteligente (doido burro eu não aturo, viu?) e, como todo gato sabido, já conquistou toda a família! Minha mulher ficou resfriada, com dor de cabeça, acamada e ele vai ficar junto dela o dia todo. Isso é carinho demais, pois ele é doido demais, graças à Deus e a meu, ainda funcionando, para raio! E viva Raul Seixas!!!!!
Roberto Solano