Como preparar uma Paella

Como Preparar uma Paella Valenciana

Sábado de um mês qualquer. O relógio digital marcava 18:01:47s. O casal MariDani, já estava alocado na divisão da casa que era usada especificamente para o preparo de comida, ou seja, na cozinha.

A cozinha era modernamente equipada com o ultimo modelo de refrigerador cromado com freezer invertido; fogão tampo de vidro de cinco bocas; forno elétrico com dois compartimentos; forno de micro-ondas com vidro fumê; depurador de ar; pia para lavar louças; torneira de água que serve para lavar e limpar os alimentos bem como para lavar a louça; e também alguns armários, feitos sob medida. Na residência do casal MariDani a churrasqueira também fica na cozinha, mas neste sábado a churrasqueira não faria fumaça, para alegria da Mari.

Eles estavam ansiosos em preparar a receita da paella valenciana que viram num programa de culinária da televisão. E convidaram alguns amigos para saborear. De manhã passaram horas no mercado municipal adquirindo as iguarias e temperos importados necessários para o prato, e para acompanhar várias garrafas de vinhos importados e alguns frisantes. Na hora de pagar a conta, quase desistiram da empreitada, mas os amigos confirmaram presença, e agora? Para que serve o limite do cheque especial! Pensaram. O cartão de crédito já estava estourado desde o início do mês.

Nas receitas buscadas na internet estava descrito que os bichos tinham que ser frescos: lula, polvo, mariscos, lagosta, camarão, mexilhões e peixes. Eles compraram todos vivos, por insistência do cunhado da Mari, que é o irmão do Dani. Na cozinha o casal MariDani se debatia para tentar controlar os bichos escrotos que iriam para a panela junto com arroz arbóreo.

Dani disse irritado:

- Porra, carajos! Quem é que teve esta ideia de comprar estes negócios vivos, hein Mari?

Mari respondeu:

- Olha esse palavreado aqui na minha cozinha seu piá de m..., e quem teve a ideia e começou a fazer o fervo foi o teu irmão! Se entenda com ele agora! E o merda ainda ficou de chegar cedo para nós ajudar a matar e limpar estas coisas nojentas, cadê ele hein? Cadê?

Os bichos escrotos estavam vivos e se debatiam espremidos no tanque de lavar roupa. A água jorrava para todos os lados do tanque, devido ao movimento dos bichos para impetrarem fuga do tanque, e um dos bichos brigava ferozmente para dominar os outros, e se tornar o rei do pedaço. Esta briga pela dominação do pedaço e ou para fugir do tanque, aumentava a quantia de água que jorrava para forra do tanque, que agora inundava além da lavanderia, também parte da cozinha. Agora quem estava irritada é a Mari, que berrou:

- Ligue já pro teu irmão agora e ve cê ele tá chegando para dar um jeito nestes bichos!

Dani ligou e disse:

- O piazão beleza? tá chegando?

...

- Ainda?? Porra, carajos, os bichos estão dominando a cozinha cara... Vem rápido!!

Dani falou:

- Ele tá no ônibus e tá tudo congestionado por causa das reformas pra copa, e já faz uma hora e meia que ele tá dentro do busão, ele que falou!

Mari respondeu indignada:

- Esse teu irmão é um “embruião” mesmo!

Dani disse:

- Nem precisamos dele, não. Me ajude e vamos limpar estes bichinhos e fazer uma bela paella. Os convidados daqui a pouco estão chegando hein!

Mari respondeu seca:

- Não me apresse piá!

Mari foi para perto do tanque junto com Dani, ele pegou um camarão para limpar, enquanto Mari observava receosa.

Nisto a lula, como um ninja saindo das sombras, pula sobre Mari. Ela se debate para tentar segurar os tentáculos com as ventosas. A lula poderosa comprimia os delicados punhos de Mari, que começava a ficar branca, mais do que ela já é. Ela gritou desesperada:

- ME AJUDE COM ESTA LULA, RÁPIDO PIÁ!!!

Nisso o polvo com seus oito braços, com ventosas mais poderosas do que da lula, se preparava para saltar sobre a cabeça de Mari. Para sorte dela, Dani chegou a tempo de dar uma vassourada no polvo, que foi cair em cima das alfaces, tomates e palmito, espirrando um líquido negro, espesso e com um cheiro horrível sobre a futura salada.

As enguias, as algas marinhas e as estrelas do mar estavam nervosas, e se debatiam freneticamente lutando um contra os outros no tanque.

Dani correu na sua caixa de ferramentas e pegou um machado, um martelo e um serrote. Com o machado acertou a cabeça do polvo. Os crustáceos com suas garras gigantes foram derrotados com a ajuda do martelo. Dani cortou com o serrote os tentáculos da lula que comprimiam os braços da Mari. Os moluscos, aqueles seres gelatinosos e ensaboados que parecem aqueles brinquedinhos de borrachas, não morriam com as marteladas.

Depois de vários minutos de tensão e desespero, todos os bichos escrotos e nojentos estavam mortos, esquartejados e estavam queimando no óleo quente da grande e colorida panela de cozinhar. MariDani estavam exaustos, olhos esbugalhados e irritados e com as roupas molhadas e ainda teriam que limpar o chão da cozinha e da lavanderia.

Quando estavam terminando de enxugar o chão JotaTe chegou, irmão do Dani, que estressado não parou de falar:

- Que merda hein! Duas horas de ônibus para andar uns 14 quilômetros, tivesse vindo a pé já tava aí faz um tempão... Ei, parem de limpar o chão e vamos matar os bichos, pessoal?? Tá na hora de começar a cozinhar!

MariDani se entreolharam com os olhos faiscando de raiva e falaram ao mesmo tempo:

- Os bichos tão queimando na panela!! Você só tem que fazer a salada!!

JotaTe olhou desconfiado, viu o alface, o tomate e o palmito todos numa mesma travessa, e já temperada com shoyo. Olhou para MariDani e iria falar que a salada já estava pronta, mas eles estavam com uma cara de cansados, desistiu.

JotaTe falou:

- Animação aí pessoal! Vocês tão precisando de um vinho, peraí que vou abrir um!

Pegou uma garrafa de vinho chileno, abriu, e serviu nas reluzentes taças e brindou quase que sozinho:

- a paella êêêêêê!

Enquanto cozinhava a paella, MariDani tomaram uma ducha rápida, JotaTe ficou cuidando para não queimar.

Os convidados chegaram, comeram, beberam, deram risada e foram embora, empanturrados de tanto comer e embriagados pelos vinhos e frisantes. Da paella não sobrou nada, só da salada que tava meio amarga.

JotaTe saiu cambaleante apoiando-se na sua esposa, que chegou quando serviam a paella. MariDani deixaram a louça suja na pia e dormiram abraçados no sofá da sala exaustos e embriagados. Eles tiveram pesadelos com monstros marinhos naquela noite.

Juvenal Tiodoro
Enviado por Juvenal Tiodoro em 27/09/2013
Código do texto: T4500939
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