Escrita Súbita

Hoje eu aprendi o que é escrever. Quando eu tentava, outrora, não era um iniciante, pois para tal deve antes mover-se ao outro lado da Terra. Um iniciante não domina as palavras, mas as conhece. E isso eu o fiz ontem. Aprendi a conhecê-las.

Estava sentado, simplório, despretensioso. Como diria Nelson, um“ bonachão” . Era fim de tarde, por volta das cinco e meia, o meu horário aristocrático, nobre. Assim como o ato de escrever, que tem seu garbo, é certo.

Pois bem, o sol batia nos meus olhos, molhados pela a ardência criada por um vento gelado, aquele mesmo vento que arrastava os passarinhos de volta a seu ninho, para então aguardar um novo outro dia, quando deixariam o divórcio da noite e estariam novamente casados com o dia, o trabalho; estes sim são nobres. E por reinventar a nobreza, eu me descobria, me achava nas telas do computador. Fora ontem mesmo que meu professor havia dito: “Só se encontra quem está perdido”. Eureca! Eu finalmente me entendi.

Mas meus olhos ainda doíam, o sol brilhava e mostrava-me que ainda havia esperança. Um carro passou, uma mãe levava sua filha para brincar no parquinho de areia. Alguns irrompiam em suas carruagens, cheias de ornamentos mecanizados, frutos de épocas tristes de revoluções. Liberdade, igualdade e fraternidade! Mas só para os chegados, só para quem não for contra nossos discursos, ideais e comprar nossas máquinas. E por falar nelas, passava uma outra carruagem, mais bonita ainda. Essa voava, estava levando pessoas desconhecidas para um lugar desconhecido. Eu a vi de longe, e senti como estou rendido, como lá do céu ela cospe seu desprezo por mim e esvai-se em forma de barulho. Some nos céus e me deixa a lembrança vaga de que um dia a dominei, mas hoje é ela quem me domina.

Um passarinho passa novamente, minha esperança ressurge. Ouço, em fones de ouvidos velhos e sombreados pela sujeira, uma sinfonia de Pachelbal. “ Great” ! Um estrangeirismo está invadindo minha crônica!

Olho o celular, concentro-me no horizonte. Agora alguns minutos já se passaram. Ainda se vê o sol, mas ele está tímido, perto das nuvens. O vento diminuiu, a mãe agora ensina sua filha a ler. Alguém está chegando do trabalho. As empregadas preparam-se para tomar uma máquina – essa os donos das outras, oligárquicos, disseram que foi feita exclusivamente para elas. Carrega umas 30 de uma vez! O estranho é que nessas não se vê lugares para todas. Mas isso me disseram que é fruto das revoluções. Um dia quem sabe irei entendê-las. Mas enfim, homens vestidos de azul recolhem os lixos, alguns meninos, cheios de deveres de casa, jogam bola na quadra da esquina, escondidos de suas mães. Uma bela mulher ostenta seu cão. Mulheres preparam os jantares e acendem as novelas. A música se acaba. Está aprendido como se escreve, ou melhor, como um iniciante escreve.

E, aí? Se gostaram mesmo, comentem aí. Se não, por favor, comentem suas críticas. Prefiro até as criticas, que me ajudam a crescer. Obrigado

Gabriel Malheiros
Enviado por Gabriel Malheiros em 26/09/2013
Código do texto: T4499603
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