Professora Yoshiko

Era inicio da década de 90. As coisas não tinham dado certo para minha família na cidade onde a noite escuta-se o som forte do guizo de cobra, Cascavel.

Meu pai resolveu voltar para nossa cidade natal, Uraí, norte do Paraná. Uirá-Y significa rio dos pássaros no vocábulo tupi. O retorno da família seria gradativo e eu fui o primeiro a ser “despachado” para morar com minha avó.

Eu estudava no segundo grau e fui continuar os estudos na única escola da cidade. Como a anterior, a nova escola era pública. De Cascavel eu trouxe os livros didáticos, que meu pai com muito sacrifício comprou.

A professora Yoshiko, sua família era de origem oriental, foi direta ao assunto na sala de aula:

- Não valem nada aqui estes seus livros, né! Você comprar as apostilas que usamos, né!

A escola era pública, mas utilizava material didático de um colégio muito famoso na região, que era particular. As apostilas eram caras e meus pais, neste momento, não tinham condições de comprar outros livros, e muito menos minha avó, que era agricultora.

Sentar ao lado dos novos colegas, foi á alternativa para acompanhar as aulas nas adoradas apostilas da professora Yoshiko.

Depois de vários dias nesta situação, a professora Yoshiko estava incomodada. Eu alterava a disciplina imposta na sala de aula, eu quebrava a tradicional ordem formal de dar aula da professora Yoshiko. Numa aula ela comunicou:

- Wésley, não senta mais você com ninguém a partir de hoje, né! E as apostilas, para na minha aula continuar, comprar, né!

Ela não esperava, e nem os colegas da turma esperavam minha resposta. Levantei e disse:

- eu tenho vários livros que foram comprados no inicio do ano professora Yoshiko e não tenho dinheiro para comprar as apostilas. Sei que a senhora não tem nada a ver com minha vida, porém, essa é minha realidade!

Esta minha desobediência da ordem, sem ela autorizar os alunos não poderiam se manifestar, afetou seu comando hierárquico. Eu vi aquela japonesinha franzina se transformar numa grande e malvada bruxa dos filmes de terror. Ela provavelmente sentiu-se desrespeitada, e temerosa da reação futura dos outros alunos, sentenciou-me gaguejando inicialmente:

- a... a... a... partir de... de... hoje v...você não... não poderá a... a... apresen...sen....sen... tar os trabalhos da turma aqui na frente!

Pela minha franqueza, um castigo, aplicado com rigidez pela professora Yoshiko. Fui privado daquilo que mais gostava nas aulas que era a exposição oral dos trabalhos em sala de aula.

Eu consegui encerrar o ano letivo “vegetando” sem as apostilas das aulas de português da professora Yoshiko. A direção do colégio, ciente dos fatos, não se pronunciou e nem tentou encontrar uma solução para o caso.