DE ANJOS E ESTRELAS

Vou falar de uma manhã de domingo aqui.

Nada demais aconteceria...

Ou aconteceria?

A mulher já havia tomado o seu café da manhã completamente só. Já havia saído para uma caminhada matutina... coisa que estava habituada a fazer, mesmo aos domingos.

O que fazer numa manhã que prometia ser tão vazia?

Sobre o sofá havia um crochê inacabado e algumas revistas pra ler... Uma tela nova ela não pintaria, pois não estava inspirada e para isso ela precisava de bastante inspiração.

Umas poesias ela poderia escrever, porque poderiam nascer sim, mas seriam poemas tristonhos...

Melhor não. Melhor deixar para outra ocasião. Queria encher de cor o seu domingo, não entristecê-lo.

Mesmo assim se viu sentando na frente do micro. Ligá-lo e conectá-lo a Internet era algo meio mecânico já...

Poderia se distrair lendo umas mensagens recebidas. Por que não?

Havia uma porção. Abriu uma a uma... algumas precisavam e mereciam uma resposta.

Só que não seria naquela hora.

Melhor desligar o computador. Mas fazer o quê?

O silêncio da casa a angustiava. O ronco do sobrinho que passava férias em sua casa a recordava que os rapazes não acordariam tão cedo.

Conectou-se ao MSN num ímpeto. Quem sabe um amigo ou uma amiga estivesse ali. Alguém para distraí-la um pouco. Mas naquela hora? Improvável.

Viu logo que não havia ninguém mesmo. Todos deviam estar dormindo ou curtindo de outra forma o novo dia que nascia. Afinal era domingo...

Entrou em alguns sites e distraiu-se assim por algum tempo, mas a solidão pesava. Vinha-lhe uma vontade de conversar com alguém... Alguém que tivesse o que lhe falar.

Outras pessoas também deviam estar se sentindo sozinhas, querendo uma companhia, mesmo que de uma forma virtual.

Poderiam conversar... por que não?

Há tempos ela tinha feito uma descoberta – que sala de bate papo não é nenhum bicho papão.

Que nome vou me dar? – começou a questionar.

Entrou como Estrela Azul.

Mal adentrou naquela sala e viu um nome ali – Anjo da Alvorada.

Aquele nome a agradou. Agradou bastante. Por não se aproximar uma estrela de um anjo? Que conversas poderiam ter?

A poetisa aceitou uma conversação e foi descobrindo no correr do diálogo que havia um encanto sim na proximidade dos dois.

Ele seria um bálsamo para sua ferida? Não exatamente... parecia mexer com suas emoções e naquela hora era o que ela mais queria... Sentir-se viva, vibrar por alguma coisa.

Os dois buscavam satisfazer seus anseios e mergulhavam fundo nos espelhos que se refletiam naquela hora.

Num domingo... um tempo de sonhar um pouco... de voar para um lugar que nem sequer existe... sem dar importância ao fato.

Estes dois seres que caminham por estradas paralelas tiveram um tempo para um esbarrão, um encontro, uma permissão para uma conversação.

São mágicas do tempo moderno que aproxima almas que jamais teriam esta oportunidade de se tocar se não fosse deste modo.

Cada um num mundo próprio e de repente ali... um toque de dedos os aproximando...palavras encantando. Uma manhã de domingo enfeitando.

O sincronismo perfeito das palavras. A emoção falando alto e as horas correndo agradáveis assim. Já sem se importar com a realidade e deixando a virtualidade falar alto.

Até que num momento a despedida os colocou novamente cada qual no seu mundo... Sem estrelas, nem anjos... seres humanos, normais. Completamente normais...

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 26/09/2013
Código do texto: T4499309
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