OVOS NO BALAIO

Ouvi uma música que cantava nos meus tempos de criança... esta música tem marca registrada no meu ser...

Eu a cantava quando me balançava nos balanços que meu pai fazia nas altas jabuticabeiras que ficavam bem defronte à nossa casa na chácara em que fui criada.

“Dominique...nique...nique... sempre alegre esperando alguém que possa amar.

O seu príncipe encantado... seu eterno enamorado que não cansa de esperar.

Certo dia de passagem na avenida alguém notou doce olhar de Dominique e ela então se enamorou...”

E por aí vai...

Adorava subir bem alto quando me balançava e gostava demais de cantá-la.

Neste tempo tudo tinha um encanto especial.

Deus! É bom lembrar. Muito bom.

Eu corria por aquelas terras como um bicho do mato. E fui exatamente isto... um bichinho arteiro, emotivo... que se pegava a admirar os ovos no balaio.

Eu os contava com os olhos. Não nego que a vontade de tocar os dedos neles era grande, mas minha mãe havia proibido...

Vão nascer os pintinhos daqui uns dias ─ ela dizia, ─ não os toque, filha.

Levava bicadas da galinha choca e a enfrentava para ver os ovos... Ah! Isto eu fazia. Jogava-a do outro lado do paiol de milho e a pobre vinha pra cima de mim com as asas levantadas.

Devia me odiar nestas horas a pobre mãe.

A natureza a fazia tão paciente... horas e horas em cima daqueles ovos e dentro de um balaio que ficava deitado no canto do paiol de milho.

Quando seus filhinhos nasciam, ela ficava ainda mais ciumenta e parecia me conhecer. Mal eu me aproximava ela dava “seus gritinhos histéricos de galinha choca”, e como isto me fazia rir.

Logo os pequeninos estavam andando pelo terreiro e comendo e já não os perseguia, porque eles vinham por si mesmos comer em minha mão. A pobre mãe não dava conta de chamá-los. Eles se aproximavam sem medo, porque eu não lhes fazia mal algum. Só dava de comer e acarinhava as suas cabecinhas.

Estas lembranças vêm de longa data, mas se mantém inalteradas.

Num lugar tão simples fui criada, mas rico de vida, de natureza, de beleza.

Eu não trocaria por nada do mundo o que vivi. A infância pura e singela que tive...

De vez em quando eu fecho os olhos e posso ver os balanços nas belas árvores, posso sentir o cheiro da minha terra amada. Aquele cheiro de terra, de mato que ficou impregnado em meu ser. Eterno nas minhas lembranças.

Guardo na memória como uma preciosidade tudo aquilo que vivi e repito constantemente isso. Nunca vou me cansar de contar em prosa e verso estes fatos todos.

Uma criança que teve a liberdade que eu tive... que cresceu num lugar puro como eu cresci... uma menina que vivenciou coisas que nunca poderão morrer, precisa mesmo guardar com todo o carinho do mundo estas lembranças.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 26/09/2013
Código do texto: T4499307
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