Hoje é dia de São Cosme e Damião, de quem Nininha era devota.
Carioca da gema, foi desembocar, em plena década de 60, numa cidadezinha do interior do Paraná. O motivo nunca lhe perguntei mas, hoje, suponho fosse por conta da profissão do marido Taíco, técnico de futebol, numa época em que Arapongas tinha fama regional neste esporte.
Por muitas vezes associei a sua memória à de Leila Diniz, pelo choque de cultura que ambas representaram na minha adolescência. Nininha era muito estranha: tomava sol de maiô, bebia e cantava e distribuía doces e presentinhos para crianças que nem conhecia. Tudo isso era novidade para aquele povo semi-analfabeto de raízes conservadoras. A minha família também se encaixava nesse quesito, mas se desencaixava em tantas outras coisas, que a aproximação me pareceu normal.
Frequentávamos sua casa e sinceramente não me lembro de quais assuntos tratavam, porque o meu olhar e sentidos jamais desgrudaram das bonecas, muitas, que adornavam camas, cômodas, em cima dos guarda-roupas... Pertenciam às filhas, uma Xanca, a outra não me lembro o nome, mas nunca as vi brincarem com elas, nas vezes em que eu, esperançosa, lá ia.
Num dia, dia de São Cosme e Damião, fui convidada a participar da festa de Nininha para as crianças vizinhas. Eu era vizinha e fui. Ganhei doces, os primeiros de não-família. Ganhei presentinhos:dois. Uma canequinha de plástico que muito usei posteriormente na escola, e uma peteca, que fez a festa das minhas irmãs mais velhas. Não veio boneca, nem baratinha.
Não fui prestigiada pela proximidade das famílias, mas uma ideia fantástica me ocorreu: naqueles dias eu teria que indicar uma madrinha para a Crisma e, antes que minha mãe me designasse outra parente como no Batismo, eu resolvi juntar o útil (bonecas) ao agradável (doces) e indiquei Nininha. Não sei como foram as negociações, se aceitou de bom grado ou se por cortesia. Aceitou. Virou a MINHA MADRINHA. Madrinha é a segunda mãe, diziam. Dali em diante, fartura de bonecas! No próximo São Cosme e Damião, para a afilhada decerto haveria prioridade.
Do mesmo modo que veio, foi-se Nininha. Do nada, Arapongas não faria mais parte do seu cotidiano, nem a minha família, nem eu. Nunca mais soube notícias. Nunca mais celebrou-se o dia de Cosme e Damião naquela vizinhança. O meu sonho de ganhar bonecas foi arquivado até bem pouco tempo atrás, quando a minha filha me deu a primeira da coleção que eu tenho.
Carioca da gema, foi desembocar, em plena década de 60, numa cidadezinha do interior do Paraná. O motivo nunca lhe perguntei mas, hoje, suponho fosse por conta da profissão do marido Taíco, técnico de futebol, numa época em que Arapongas tinha fama regional neste esporte.
Por muitas vezes associei a sua memória à de Leila Diniz, pelo choque de cultura que ambas representaram na minha adolescência. Nininha era muito estranha: tomava sol de maiô, bebia e cantava e distribuía doces e presentinhos para crianças que nem conhecia. Tudo isso era novidade para aquele povo semi-analfabeto de raízes conservadoras. A minha família também se encaixava nesse quesito, mas se desencaixava em tantas outras coisas, que a aproximação me pareceu normal.
Frequentávamos sua casa e sinceramente não me lembro de quais assuntos tratavam, porque o meu olhar e sentidos jamais desgrudaram das bonecas, muitas, que adornavam camas, cômodas, em cima dos guarda-roupas... Pertenciam às filhas, uma Xanca, a outra não me lembro o nome, mas nunca as vi brincarem com elas, nas vezes em que eu, esperançosa, lá ia.
Num dia, dia de São Cosme e Damião, fui convidada a participar da festa de Nininha para as crianças vizinhas. Eu era vizinha e fui. Ganhei doces, os primeiros de não-família. Ganhei presentinhos:dois. Uma canequinha de plástico que muito usei posteriormente na escola, e uma peteca, que fez a festa das minhas irmãs mais velhas. Não veio boneca, nem baratinha.
Não fui prestigiada pela proximidade das famílias, mas uma ideia fantástica me ocorreu: naqueles dias eu teria que indicar uma madrinha para a Crisma e, antes que minha mãe me designasse outra parente como no Batismo, eu resolvi juntar o útil (bonecas) ao agradável (doces) e indiquei Nininha. Não sei como foram as negociações, se aceitou de bom grado ou se por cortesia. Aceitou. Virou a MINHA MADRINHA. Madrinha é a segunda mãe, diziam. Dali em diante, fartura de bonecas! No próximo São Cosme e Damião, para a afilhada decerto haveria prioridade.
Do mesmo modo que veio, foi-se Nininha. Do nada, Arapongas não faria mais parte do seu cotidiano, nem a minha família, nem eu. Nunca mais soube notícias. Nunca mais celebrou-se o dia de Cosme e Damião naquela vizinhança. O meu sonho de ganhar bonecas foi arquivado até bem pouco tempo atrás, quando a minha filha me deu a primeira da coleção que eu tenho.