Aulas de silêncio!
Rosa Pena
Existe um fascínio no mar. Nunca ninguém conseguirá descobri-lo por inteiro.
É casado ou solteiro? Amante da lua? Amigo do sol ou rival?
Leal ou traiçoeiro? Depende da sua maré.
O mar não tem idade, não tem residência, nem nacionalidade.
Muito menos telefone.
Sabe-se apenas que ele é belo em demasia, salgado e tem cheiro.
Por vezes transparente, por vezes turvo. Coberto de segredos, seu fulgor ofusca, sua imensidão assusta. Um eterno enigma!
Que nem celular com seu toque inesperado.
Eu respeito esse jeito do mar! Não meto a cara na onda da incerteza. Posso me afogar na audácia. Brinco, quando ele dá pé e me convida a nadar. Basta olhar recados nas vagas.
Ele não gosta de secretárias eletrônicas.
Ah! O ser humano cisma em falar em demasia, sem perceber se o perfume momentâneo do outro é alfazema ou queixume, se é hora de poesia ou de um jantar em família, e, de repente, a inconveniência perde a graça e vira desgraça. Uns chamam isso de autenticidade, outros de amizade, como se isso ou aquilo permitisse criar uma intimidade que invade.
Alô?! Bem na hora deu fazer amor?
A magia do mar reside na dúvida de seu perigo, o limite é vizinho do respeito. Eu amo o mar, mas não surfo na marra.
Tem gente que anda precisando, com urgência, ter aulas com o mar.
Aulas de silêncio. Mais ainda, deixar a sazão tsunami do outro passar sem cobrar. A estação de catar conchinhas vai acontecer novamente, porém só para aqueles que tiveram jogo de cintura para enfeitar de corais um coração que andou de ressaca. Aos demais sobrará o silêncio, não igual ao do mar. Apenas a humana mudez, aviso de que perderam definitivamente a vez.
Tenho inveja do mar. Não pela imensidão, mas porque ele não tem telefone, demônio modernizado.