O MENDIGO

No período em que trabalhei a noite, em muitas madrugadas presenciei algo que jamais esquecerei...

Existe um homem em minha cidade, um cidadão do mundo, como tantos. Como todos nós!

Parávamos sempre em algum canto para a famosa saideira.

Acontece que enquanto eu me afogava em goles generosos de cerveja e me inebriava com perfumes baratos ao redor, eu sempre o observava. Em todo canto, em cada esquina.

Ele sempre perambulava aqui e ali. Um solitário... Um mendigo do mundo. Apenas mais um!

E ele desenhava tudo que via.

Já desenhou a mim e a tantos outros rostos anônimos.

Mal conversávamos e ele nunca pediu qualquer coisa...

Ele era como uma alma invisível carregando sua pitoresca prancheta envelhecida como sua própria vida.

A noite, mais que estrelas, é composta de fantasias e dores.

cheiros...mal cheiros

Encontros e desencontros

Almas generosas e outras pavorosas...

A noite é um picadeiro repleto de personagens.

E este homem era mais um...

Mas o que me move a contar isso são seus desenhos!

Eram horrorosos (talvez até retratassem o que nunca queremos ver) com traços trêmulos e sem cor alguma.

Impossível reconhecer algo naqueles papéis mal cuidados.

Mas ele via!

E saia feliz com seus desenhos feios a tiracolo.

Ele nunca vendeu uma caricatura sequer... Nem nunca uma paisagem.

Ele não pedia que ninguém comprasse. Não pedia nenhum elogio

Ele não pedia nada!

A ele, bastava a certeza do que fazia. Seus olhos brilhavam de satisfação própria. E seu sorriso, invariavelmente de canto, se escancarava de felicidade!

Hoje não trabalho mais a noite. Eu nunca mais o vi.

Mas com esse mendigo eu aprendi a melhor das lições.

Uma que a escola não ensina e que a vida só o faz sutilmente, através dessas pequenas almas invisíveis...

“eu aprendi que o sonho da gente é único. E que não devemos esperar que ninguém sonhe por nós”

luis lopes
Enviado por luis lopes em 25/09/2013
Código do texto: T4496852
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.