FÁBULA CLIMÁTICA

Em tempos outros a história que segue acontecia muito raramente. Mas hoje, graças à capacidade incrível desse a quem chamam ser humano, vem ocorrendo com frequência.

Eis que o clima, um dia foi organizado em períodos, estes com características muito próprias. Eram chamados Estações. Espécie de entidades que lhes apresento a seguir. Foram elas. Na verdade, nessa história foram apenas duas das quatro que conhecemos que protagonizaram tal embate.

São muito complicadas as tais estações. O ano, por exemplo, pretende ser marcado pela passagem de cada uma das estações, mas em seu princípio, já surge em pleno período do Verão. Vou lhes falar sobre o Verão...

Onde ocorreu essa história o Verão é sujeito famoso, importante e abusado. Seus humores costumam ser expressivamente sentidos pelos tais humanos. Por alguma razão que eu pelo menos, não compreendo, os humanos desse lugar o adoram. Festejam sua chegada vigorosamente. Pensa que tanta bajulação aplaca seus intempestivos desmandos? Qual nada... Com frequência tem uns ataques e sai destruindo o que vê pela frente, cria tempestades, enchentes, deslizamentos. O cara é mesmo avassalador, acredite. Tem vezes que tosta com um calor de 40° esses humanos que tanto o amam. O fato é que ninguém nesse lugar sai impune do ardente Verão, para o bem e para o mal. Afinal, o Verão tem uma coisa que ninguém tenta negar, ele é um ardente propagador das paixões, lá isso é. Mas não foi o ardente Verão quem viveu a história...

Durante o ano, quando o Verão, entre as lágrimas da chuva finalmente vai para outro lugar, quem vem fazer-se presente é o charmoso Outono.

O que dizer do Outono? Que ele é um vaidoso pintor? Ele é sem dúvida! Basta observar os coloridos pores-do-Sol com que o Outono nos presenteia. Ou mesmo, pensar nas folhas das árvores com seu verde tradicional se transformando em nuances de amarelo, laranja, marrom. O Outono é lindo, mas ninguém lhe dá grande bola não, talvez por trazer um friozinho à tarde. Essas pessoas desse lugar amam o calor. Também não foi o Outono quem aprontou esse trelelê, que contarei já, já.

Seguindo a trilha do Outono, lá pelo meio do ano, chega o Inverno. O Inverno é muito temido pelo planeta à fora, mas aqui? Aqui ele chega sempre manso, não causa muitos estragos não. No máximo uns lábios rachados e umas dores nos ossos. Pois saiba você que foi o Inverno protagonista desse nosso causo. Mas não sozinho, foi com sua companheira subsequente. A Primavera, nossa menina arteira.

Bendita flor entre os bravos guerreiros, a Primavera é pura sedução. Espalha coloridas flores e perfumes (pobres dos alérgicos), mas com tanta beleza vêm insetos, espirros e coceiras... Uma das missões dessa garota é ir aquecendo o lugar, para a gente ir se acostumando com o calor do senhor Verão. Pois é, foi a Primavera que provocou a confusão.

Aconteceu que, naquele ano, o Inverno andava meio confuso, tinha dias que os humanos achavam que iam congelar, em outros nem se percebia a presença dele. Ninguém entendia bem o que estava acontecendo. Teria ele abandonado o posto? Ninguém sabia, mas a sapeca Primavera estava tentando entrar bem antes da hora. Por isso os picos de frio. Era o Inverno tentando empurrar de volta à danadinha...

Mas a Primavera conseguiu, roubou a última semana do Inverno, quase virou Verão. Ninguém conseguiu se despedir direito do Inverno, que ficou furioso. Queixou-se à Mãe Natureza, a poderosa guardiã da Terra. Ela, compreendendo a gravidade da desobediência da Primavera. Deu a ele uma chance.

Naquele ano a Primavera teve de devolver uma semana ao Inverno. Já era Setembro, mas o frio da chuva tomava conta daquele lugar.

Qualquer semelhança com a primeira semana da Primavera de 2013 no Rio de Janeiro...