RAMALHO E O CIGARRO
Como é bom rever os amigos e vê-los bem! Esta semana, eu tive o prazer de me encontrar com um deles: Ramalho. Homem probo, profissional competente e um excelente caráter. Alegro-me sempre que o vejo. E, ultimamente, o tenho visto muito. Até tenho viajado com ele, em virtude dos compromissos junto à 12ª DIRED, onde ele é o motorista oficial.
O Ramalho tem uma história que agora podemos achar hilária, mas que no momento em que aconteceu foi um desafio à sobrevivência de qualquer organismo vivo. Assim disseram os médicos.
O querido amigo -na época um fumante inveterado -, como todo bom brasileiro que se preza, resolveu, ele mesmo, fazer os consertos necessários da parte hidráulica de um banheiro da casa dele.
Pois bem, munido de uma torneira nova, alicate, chave de fenda, chave inglesa, um banquinho de madeira e um cigarro no bico (fumante que se preza não faz nada sem estar devidamente munido de tabaco nos beiços), o acima citado subiu no banquinho e pôs-se a desentarraxar a rosca da torneira velha para por a nova em seu lugar.
Nesse momento, sentiu uma forte dor no peito e achou que tinha sido devido ao esforço que tinha feito para desatravancar a rosca, colada devido ao tempo. Para recuperar as forças, resolveu sentar-se no banquinho, dar uma baforada bem forte, para reiniciar a troca da bendita e cara torneira nova. O efeito da nicotina no pulmão, corrente sanguínea e cérebro foram mágicos: aliviou a dor, relaxou o corpo e renovou o espírito caseiro do grande polivalente doméstico.
De volta ao ofício, não demorou muito para ele sentir novamente a mesma dor, acrescida da intensidade e do aperto no peito. Como tinha acabado de fumar o cigarro (até o filtro) e a dor o estava incomodando, resolveu ir até a sala sentar-se um pouco e acender um novo alcatrão, misturado com nicotina e... Sei lá! Digamos acender quatro mil substâncias nocivas ao organismo. Mais uma vez a entrada da fumaça em seus pulmões e adjacências serviu de bálsamo para as dores.
Completamente refeito daquela insistente e perseverante mistura de aperto na caixa torácica com pontada aguda de uma faca entrando de peito adentro, o nosso amigo voltou para o foco de desenroscar para depois enroscar, trocando a velha pela nova. Torneira, é claro. Porém, dessa vez, não deu nem tempo de se trepar no banquinho. A dor foi maior, mais prolongada e quase o colocou a nocaute.
Socorrido pela cônjuge - depois do grito dado ao estilo Tarzan - e com o apoio de um cunhado (até que cunhado é bom nessas horas. Somente nessas horas), foi colocado em um carro (ainda não havia ambulância do SAMU) e levado imediatamente ao Pronto-socorro Central. Enquanto ia a caminho, para aliviar o susto acendeu um cigarrinho, claro!
Tragada forte, relaxadora, analgésica, segundo ele, era melhor que Melhoral para dor de dente. Pronto-socorro lotado (dia de sábado o movimento dobra), médicos atarefados, corre-corre de enfermeiras, pacientes entrando, pernas e braços engessados saindo, enfim, a consulta:
"-O que o senhor está sentindo? Pergunta clássica feita pela totalidade da classe médica. “- Doutô, estou sentindo uma dorzinha aqui nos peito" (não sei por que, mas toda vez que vamos dizer alguma coisa, temos que passar a palma da mão no local mencionado e esfregá-lo, por quê?).
Foi o suficiente para se dar por encerrada a consulta e a prescrição médica estava pronta: Voltaren associada com Dipirona. Detalhe: aplicada na parte glútea do individuo (segundo ele, o enfermeiro tinha a mão pesada por demais!). Alívio total.
Volta tranqüila e um cigarro para comemorar. Boas tragadas.
Entretanto, aquela dor não queria deixá-lo em paz. Melhor: queria levá-lo para um passeio sem volta. Noite do sábado, tarde até. Dor forte, desespero e uma ida ao P.A. do Alto de São Manoel. Nervoso, o nosso herói gritava com o médico, que demorava a atendê-lo.
O nobre discípulo de Hipócrates (para quem não sabe, pai da medicina), acostumado em ver tantas desgraças em seus plantões e, conseqüentemente, ser o responsável por transformá-las, mandou imediatamente dar "um sossega leão" debaixo da língua do nosso apavorado Hércules, e uma injeçãozinha (para variar) de Voltaren.
Alívio imediato, volta para casa, grande sonolência. Um sono bom, reparador até os efeitos da dupla aplicada, passarem.
Domingo tortuoso. Dores, chás, remédios caseiros e até emplastos quentes massageados no peitoral. Ah, para variar, um cigarrinho de vez em quando. Noite e madrugada de domingo e, finalmente, uma segunda direto para um consultório particular. Diagnóstico: enfartado desde o sábado à tarde. Providências: levado imediatamente à capital, foi feito um cateterismo.
Hoje, o grande sobrevivente (agora ex-fumante) brinca sempre quando vê alguém acendendo um cigarro e dando umas tragadas. Ele passa a mão em cima do tórax e diz: me dá um cigarrinho aí!
Como é bom rever os amigos e vê-los bem! Esta semana, eu tive o prazer de me encontrar com um deles: Ramalho. Homem probo, profissional competente e um excelente caráter. Alegro-me sempre que o vejo. E, ultimamente, o tenho visto muito. Até tenho viajado com ele, em virtude dos compromissos junto à 12ª DIRED, onde ele é o motorista oficial.
O Ramalho tem uma história que agora podemos achar hilária, mas que no momento em que aconteceu foi um desafio à sobrevivência de qualquer organismo vivo. Assim disseram os médicos.
O querido amigo -na época um fumante inveterado -, como todo bom brasileiro que se preza, resolveu, ele mesmo, fazer os consertos necessários da parte hidráulica de um banheiro da casa dele.
Pois bem, munido de uma torneira nova, alicate, chave de fenda, chave inglesa, um banquinho de madeira e um cigarro no bico (fumante que se preza não faz nada sem estar devidamente munido de tabaco nos beiços), o acima citado subiu no banquinho e pôs-se a desentarraxar a rosca da torneira velha para por a nova em seu lugar.
Nesse momento, sentiu uma forte dor no peito e achou que tinha sido devido ao esforço que tinha feito para desatravancar a rosca, colada devido ao tempo. Para recuperar as forças, resolveu sentar-se no banquinho, dar uma baforada bem forte, para reiniciar a troca da bendita e cara torneira nova. O efeito da nicotina no pulmão, corrente sanguínea e cérebro foram mágicos: aliviou a dor, relaxou o corpo e renovou o espírito caseiro do grande polivalente doméstico.
De volta ao ofício, não demorou muito para ele sentir novamente a mesma dor, acrescida da intensidade e do aperto no peito. Como tinha acabado de fumar o cigarro (até o filtro) e a dor o estava incomodando, resolveu ir até a sala sentar-se um pouco e acender um novo alcatrão, misturado com nicotina e... Sei lá! Digamos acender quatro mil substâncias nocivas ao organismo. Mais uma vez a entrada da fumaça em seus pulmões e adjacências serviu de bálsamo para as dores.
Completamente refeito daquela insistente e perseverante mistura de aperto na caixa torácica com pontada aguda de uma faca entrando de peito adentro, o nosso amigo voltou para o foco de desenroscar para depois enroscar, trocando a velha pela nova. Torneira, é claro. Porém, dessa vez, não deu nem tempo de se trepar no banquinho. A dor foi maior, mais prolongada e quase o colocou a nocaute.
Socorrido pela cônjuge - depois do grito dado ao estilo Tarzan - e com o apoio de um cunhado (até que cunhado é bom nessas horas. Somente nessas horas), foi colocado em um carro (ainda não havia ambulância do SAMU) e levado imediatamente ao Pronto-socorro Central. Enquanto ia a caminho, para aliviar o susto acendeu um cigarrinho, claro!
Tragada forte, relaxadora, analgésica, segundo ele, era melhor que Melhoral para dor de dente. Pronto-socorro lotado (dia de sábado o movimento dobra), médicos atarefados, corre-corre de enfermeiras, pacientes entrando, pernas e braços engessados saindo, enfim, a consulta:
"-O que o senhor está sentindo? Pergunta clássica feita pela totalidade da classe médica. “- Doutô, estou sentindo uma dorzinha aqui nos peito" (não sei por que, mas toda vez que vamos dizer alguma coisa, temos que passar a palma da mão no local mencionado e esfregá-lo, por quê?).
Foi o suficiente para se dar por encerrada a consulta e a prescrição médica estava pronta: Voltaren associada com Dipirona. Detalhe: aplicada na parte glútea do individuo (segundo ele, o enfermeiro tinha a mão pesada por demais!). Alívio total.
Volta tranqüila e um cigarro para comemorar. Boas tragadas.
Entretanto, aquela dor não queria deixá-lo em paz. Melhor: queria levá-lo para um passeio sem volta. Noite do sábado, tarde até. Dor forte, desespero e uma ida ao P.A. do Alto de São Manoel. Nervoso, o nosso herói gritava com o médico, que demorava a atendê-lo.
O nobre discípulo de Hipócrates (para quem não sabe, pai da medicina), acostumado em ver tantas desgraças em seus plantões e, conseqüentemente, ser o responsável por transformá-las, mandou imediatamente dar "um sossega leão" debaixo da língua do nosso apavorado Hércules, e uma injeçãozinha (para variar) de Voltaren.
Alívio imediato, volta para casa, grande sonolência. Um sono bom, reparador até os efeitos da dupla aplicada, passarem.
Domingo tortuoso. Dores, chás, remédios caseiros e até emplastos quentes massageados no peitoral. Ah, para variar, um cigarrinho de vez em quando. Noite e madrugada de domingo e, finalmente, uma segunda direto para um consultório particular. Diagnóstico: enfartado desde o sábado à tarde. Providências: levado imediatamente à capital, foi feito um cateterismo.
Hoje, o grande sobrevivente (agora ex-fumante) brinca sempre quando vê alguém acendendo um cigarro e dando umas tragadas. Ele passa a mão em cima do tórax e diz: me dá um cigarrinho aí!
Obs. Imagem da internet