PENSANDO E ESCREVENDO.

A morte é o fim de uma vida e seu seguimento. Termo final da busca de uma energia maior. Ciclo interminável da matéria na transformação da natureza. A morte e a vida, são uma e a mesma coisa. Estados de um mesmo acontecimento, elos da mesma corrente.

À vida do homem se somam as variantes do sentimento e da emoção, na vibração forte da existência, resultado do gesto infinito da criação do amor.

A vida é também energia, ou só energia, espírito, alicerce principal de nossa breve permanência movimentada pelo oxigênio que respiramos. A vida é permanente, por isso já pertencemos à eternidade. Não há morte, mas vida em outras formas. Viemos da eternidade e a ela voltaremos, é nosso destino, pertencemos forçosamente à eternidade, física e espiritualmente, como matéria e pensamento.

Na morte se renova o antecedente no consequente, preenchidos serão outros espaços na utilidade da natureza física, matéria, não há como negar a transformação em suas variadas metarmorfoses, ocorre diante de nossos olhos. Há significação maior da vida em corpo, pensamento, mas devem ser entendidos os ciclos. Por um milagre inexplicado nascemos. Cerrado mistério, enígma desafiante, segredado por vontade maior inacessível à inteligência.

O sofrimento iguala na vala comum a desordem material que nada dá a quem pouco tem, sonegando sem prover. Esvazia-se o entendimento, apaga-se a pouca compreensão.Com retidão de escolha a materialidade será sublimada no cume da montanha que descerra a paz.

A única explicação reside na visão realista da transformação que passa sob nossos olhos. Se a matéria em matéria se transforma, o imaterial, pensamento, transformado será. É o princípio tomista da causalidade recepcionado pelos grandes cérebros. Estamos em outro estamento que ninguém pode entender, só alguns compreenderam. A finitude também é uma objetividade.

O quê é a alma? Defini-la, projeto impossível, seria pretensão descabida e tola. Mas, pode-se dizer, que a alma é irmã do pensamento. Ambos intangíveis, daí o grande enigma. Uma nos levaria ao eterno na promessa da nova aliança, o outro faz a ponte, envolta na rede elétrica de neurônios, atalho imaginário tentado construir para o santuário impenetrável que abraça o anímico, a alma.

Estamos no santuário de portas segredadas, cerradas, aspirado entrar por todos que se entregam a essa árdua e impossível tarefa, sumamente superior às forças humanas, campo de estudo das grandes questões inacessíveis. Vale a corrida frenética de penetrar o menos no tudo do impenetrável. Não bastam considerações aparentes, nem estreitadas nas paredes de simbolismos fragilizados e sustentados na imagem, o interior não gosta de aparências nem Deus de mentiras. Mesmo o agnosticismo de Kant, um revolucionário desses complexos temas, ousou demonstrar o indemonstrável, formou-se somente a crítica da ideia.

A corrida que moveu religiosos e filósofos é permanente, faz parte do orgânico núcleo dos pensadores que não se frustram na estrada áspera tanto quanto doce.

A persecutória entrega traz retorno, ainda que insatisfatório.Melhor o pouco que induz que a fragilidade que desconhece. O santuário, ao menos, é “tentado” frequentar. Embora cerradas, bate-se nas portas fortemente. Mas, elas nunca se abrirão! O desconhecido não desfaz seus véus com a facilidade que a primariedade pretende. Mantém-se indecifrável a desafiar os ansiosos.

Na passagem da matéria poderá se dar o encontro do não revelado à impureza dos sentidos, maculados pelo burburinho dos sonhos materiais, embora pretendidos descartar. Descarte impossível. Somos matéria! Só não vê a partícula da eternidade na imemorialidade o que passeia pelo desconhecido sem conhecê-lo.

O despojamento tem limites. O anacoreta necessita de proteína ou sucumbe, mesmo os pouquíssimos ditos santos, que viveram praticamente só de água. E os normais em emoções materiais necessitam do jogo do amor.

Viver de fé é sublimar o corpo, a matéria que é a forma do mundo, da natureza. Em sânscrito, a fé, “visvas”, guarda similitude quase gramatical com a ação do verbo viver, dirigindo-se a respirar, energia vital, confiar e estar livre do medo.

Quem está na posse da tranquilidade, onde a respiração faz fluir a vida expressiva, tem a compreensão intuitiva da verdade. É o caminho para penetrar parcialmente na intuição da alma. O santuário, fechado à inteligência, está aberto às indagações que levam à esperança do credo em algo melhor. É a chave para tranquilizar o espírito indômito.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 23/09/2013
Reeditado em 23/09/2013
Código do texto: T4494913
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