O bar do Porssigão
Eduardo estava no bar do porssigão. Famoso barzinho da zona sul da cidade da Cacholina do sul, Jose Antônio porssiga era o proprietário do bar, quarentão de cabelos escuros, com alguns indícios de grisalhice.
Eduardo estava sentado. em sua frente só havia uma dose de uísque. Ele olha exaustivamente para o copo, parece haver uma guerra oculta entre eles, por fim, o copo cede, sendo derrotado, e o despojo de Eduardo é bebê-lo.
Cena apática era essa, fazia já duas horas que ele estava ali, até que Eduardo se levanta e chama o porssigão - para pedir outra dose logicamente.
- Ô porssigão, chega cá.
Porssigão, que lustrava o balcão do bar com um pano encardido, olha para Eduardo e vai caminhando até ele, até parar defronte dele.
- Já disse para não me chamar desse jeito, me chame de Zé, de Antônio, ou até mesmo de Porssiga, mas de porssigão não! E o que porra você quer?
- Outra dose porssigã...
Eduardo nem chegou a completar, levou um soco na cara que caiu para trás.
- Caralho, Porssigão! Porra ta doido?
- Já disse que meu nome não é esse.
- Sei sei, mas que eu me lembre você nunca ligou quando eu chamava você assim antes.
- hum...
- Senta aí porssigão, preciso falar contigo.
- Filha da put...
- É sério, senta aí e para de zueira.
Porssigão se sentou, não antes de colocar uma dose para os dois e dessa vez ele não levou a garrafa para dentro do bar, deixou-a ali perto deles, bem centralizada na mesa, como diria o Zé Carlos, a garrafa era o meio de ligação entre o ataque e a defesa; teoria essa interessante, por que veja bem, se bebermos com raiva iremos atacar alguma coisa, mas se bebermos com tristeza ficaremos na defensiva, e isso é o mais hilariante dessa teoria.
Os dois homens prosseguem com a conversa.
- Porssigão.
- oi...
- Acho que estou sendo traído.
- como chegou a essa conclusão?
- sei não, apenas sei, sabe aquele instinto de que...
- instinto de corno?
- ...
- hahahahhaha desculpa, não aguentei, continue.
- como eu tava dizendo, eu tava com instindo de corn...quero dizer.
- ahahahahahahahaha.
- cala a boca filho da puta.
- não coloque a minha mãe nisso.
- a nossa mãe jumento!
- só por parte de pai.
- mas é nossa mãe!
- ela é tua mãe, meu pai só come ela há quinze anos, é só uma puta-carrapato.
- eles são casados...
- detalhes, detalhes...
- e você ainda mora na casa dela...
- Eduardo, precisa me lembrar desses detalhes? Tá certo, bem ou mal somos irmãos.
- ela é sua mãe então?
- digamos que sim...
- então retire o puta-carrapato!
- ta bem, eu retiro isso.
- além de que, seu pai não come ela há quinze anos, aquele broxa não deve comer ela há uns exatos quinze anos...
- Parou?
- tá, parei. seu pai é meu pai, e minha mãe é sua mãe, ta bom assim?
- tá, mas voltemos ao seu instinto de corno.
- você precisa parar com esse sarcasmo miserável, bem, faz um tempo que não...
- não? O que não?
- bem, eu não “como” ela há três meses.
- Vixe, tá fazendo curso pra padre?
- o nome disso é celibato e não curso, burro!
- tá bem, se vai ficar me chamando dessas coisas eu vou embora.
- desculpa, só fiquei nervoso.
- tudo bem, continue com a descrição do seu curso de padre.
- às vezes você se supera. Diz Eduardo indignado com o pouco caso que a conversa tem.
- nada, são seus olhos, continue, por favor.
- teve um dia em que eu cheguei e tive a nítida impressão de ter visto alguém pulando a minha janela, só que não deu para ver quem era.
- tem certeza?
- absoluta.
- e como é que tem tanta certeza assim? Me explique tudinho, vamos comece.
- bem, teve outro dia que eu fingi ter saído e fiquei no guarda-roupa escondido.
- e...?
- acho que devo ser corno por agendamento, por que nesse dia não aconteceu nada, só fiz perder meu dia no trabalho e trabalhar igual doido depois.
- tá vendo, deixa disso, você não é corno! Isso só mostra que você deve estar trabalhando muito e deve estra cansado dessa rotina, por que não vai pro sítio lá em Carumbá?
Eduardo toma sua última dose antes de falar.
- Me sinto aliviado assim, bem, acho que vou embora. Acho que era coisa da minha cabeça mesmo, nanda não faria isso comigo, e outra coisa, tu tá aqui todo dia, iria reparar se visse algo.
- com certeza eu veria algo. vai pra casa e descansa, põe a cabeça em ordem.
Eduardo se levanta e desce a rua 23, chegando em frente da sua casa, uma casa de alvenaria muito bonita e singela, entra em meios a tropicões e some da vista de todos, cansando e com tantas duvidas cai exausto na cama.
No bar do Porssigão...
(ainda bem que ele foi embora, e ainda melhor ele tirar essa ideia da cabeça. Se ele ao menos desconfiasse que estou tendo um caso com a mulher dele, vixe, que Deus me ajude. melhor eu falar com a Nanda e mandar ela sossegar o facho esses dias.)