O MEU CRONISTA FAVORITO
Dizem que o acaso é obra de Deus. Por que digo isso? Explico: um certo dia, eu ia passando pelos corredores do Departamento de Comunicação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, quando fui chamado pelo professor Giovanni Rodrigues, um dos titulares do curso de jornalismo, que me entregou um livro e disse:
- Leia e depois escreva uma crítica sobre ele.
Eu peguei o livro, olhei a sua capa, o título e, sem dizer nada, saí dali. Nem disse que ia ler, nem disse o contrário. Contudo, por se tratar de uma pessoa que eu gostava, a tendência era de colocá-lo nas minhas preferências e, na primeira oportunidade, lê-lo.
Por coincidência, no dia seguinte, eu fui chamado à capital, para uma capacitação, e aproveitei a viagem para levar o livro como companhia de viagem. Assim que saí da minha cidade, peguei o dito cujo e, confesso, displicentemente, comecei a ler o seu primeiro conteúdo. Foi amor à primeira leitura!
Sim. Percebi, desde as primeiras frases, que a linguagem utilizada pelo autor era, digamos, diferenciada da maioria das linguagens empregadas por quem se arrisca a trilhar o caminho da literatura, inclusive eu.
À medida que as páginas eram devoradas, eu cada vez mais me prendia ao conteúdo e me espantava (positivamente) com a melodia de suas linhas. Era uma melodia que mesclava o coloquial com o erudito e, no meio destas, o linguajar brejeiro, contado pelo caboclo, em seu habitat natural, na melhor forma da harmonia regional.
Das “abençoadas chuvas de Mossoró” (Se Deus quiser ainda vou matar a saudade de ver uma copiosa chuva, cheirosa cantante, reluzente e esplendorosa e, assim recordar a minha infância em Mossoró – em “A Chuva”), o livro trazia o cotidiano de quem vivera os melhores anos de sua vida na terra natal e, melhor, contando suas experiências, seus causos, seus cotidianos diversos, tudo com uma boa dose de humor, mas, sobretudo, pautados na coerência e coesão textual.
Enquanto o ônibus atravessava o vento e os animais à beira da estrada pastavam, eu ia me deliciando com as crônicas escritas naquele livro. Num dos trechos de “Tarde Gris”, o autor comove a quem o lê quando, em frases poéticas, conduz a sua prosa para um estado em que somente os poetas conseguem elevar: talvez esta solidão que me domina nesta tarde vazia, um sentimento que as pessoas não entendem. Da minha janela vejo o céu. Na verdade, não está cinzento. Está azul, com nuvens corredeiras em sua amplidão. Até ouço numa mangueira da casa vizinha um bem-te-vi a cantar seu repetitivo refrão, que às vezes soa alegre, às vezes não.
Um pouco antes, na mesma crônica, o contraponto como equilíbrio: se prefiro contemplar, nessas ocasiões, um céu azul, quando desce a noite quero-a cravejado de estrelas. Ou molhado por uma chuva mansa, serena e benfazeja. A chuva me tranquiliza. Gosto dela. Lava-me a alma de todas as tristezas. Até quase me anestesia. Sua bonita zoada e o vento que a fustiga por vezes induzem-me ao sono.
Depois de ler essas frases não parei mais. Na capital, a noite estava clara, convidativa, alcoviteira. Depois do banho tomado, o corpo saciado pela refeição noturna, o melhor convite recebido foi continuar a leitura das últimas horas. Se por um lado deixei de contemplar, ao vivo, o céu estrelado, por outro, as páginas desenhadas com o pensamento do autor me levaram a ver, em devaneios, o que a natureza, todos os dias, costuma nos presentear.
Li, como se diz, num pulo o livro “Crônicas Anacrônicas” de Obery Rodrigues. Encantou-me. Fez-me fã. Na volta, a crônica não de crítica literária, mas de agradecimento por ter tido o prazer e o privilégio de ler ensinamentos de como escrever e conquistar.
Depois disso, tornamo-nos amigos. Dia 20, agora, esse jovem senhor completou 89 primaveras bem vividas, bem cuidadas, bem compensadas. Daqui da terra de Santa Luzia, o abraço apertado, o desejo de que a soma desses dois números seja dos anos vindouros de sua existência.
Ah! Quase que me esquecia: duas semanas atrás, escrevi uma crônica, na qual, propositalmente, não citei o nome dele. Hoje, quero te dizer que, na ordem das preferências, o teu nome vem em primeiro lugar. És o meu cronista favorito!
Meu amigo, Feliz Aniversário! Deus te abençoe sempre – a ti e a tua família.
Dizem que o acaso é obra de Deus. Por que digo isso? Explico: um certo dia, eu ia passando pelos corredores do Departamento de Comunicação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, quando fui chamado pelo professor Giovanni Rodrigues, um dos titulares do curso de jornalismo, que me entregou um livro e disse:
- Leia e depois escreva uma crítica sobre ele.
Eu peguei o livro, olhei a sua capa, o título e, sem dizer nada, saí dali. Nem disse que ia ler, nem disse o contrário. Contudo, por se tratar de uma pessoa que eu gostava, a tendência era de colocá-lo nas minhas preferências e, na primeira oportunidade, lê-lo.
Por coincidência, no dia seguinte, eu fui chamado à capital, para uma capacitação, e aproveitei a viagem para levar o livro como companhia de viagem. Assim que saí da minha cidade, peguei o dito cujo e, confesso, displicentemente, comecei a ler o seu primeiro conteúdo. Foi amor à primeira leitura!
Sim. Percebi, desde as primeiras frases, que a linguagem utilizada pelo autor era, digamos, diferenciada da maioria das linguagens empregadas por quem se arrisca a trilhar o caminho da literatura, inclusive eu.
À medida que as páginas eram devoradas, eu cada vez mais me prendia ao conteúdo e me espantava (positivamente) com a melodia de suas linhas. Era uma melodia que mesclava o coloquial com o erudito e, no meio destas, o linguajar brejeiro, contado pelo caboclo, em seu habitat natural, na melhor forma da harmonia regional.
Das “abençoadas chuvas de Mossoró” (Se Deus quiser ainda vou matar a saudade de ver uma copiosa chuva, cheirosa cantante, reluzente e esplendorosa e, assim recordar a minha infância em Mossoró – em “A Chuva”), o livro trazia o cotidiano de quem vivera os melhores anos de sua vida na terra natal e, melhor, contando suas experiências, seus causos, seus cotidianos diversos, tudo com uma boa dose de humor, mas, sobretudo, pautados na coerência e coesão textual.
Enquanto o ônibus atravessava o vento e os animais à beira da estrada pastavam, eu ia me deliciando com as crônicas escritas naquele livro. Num dos trechos de “Tarde Gris”, o autor comove a quem o lê quando, em frases poéticas, conduz a sua prosa para um estado em que somente os poetas conseguem elevar: talvez esta solidão que me domina nesta tarde vazia, um sentimento que as pessoas não entendem. Da minha janela vejo o céu. Na verdade, não está cinzento. Está azul, com nuvens corredeiras em sua amplidão. Até ouço numa mangueira da casa vizinha um bem-te-vi a cantar seu repetitivo refrão, que às vezes soa alegre, às vezes não.
Um pouco antes, na mesma crônica, o contraponto como equilíbrio: se prefiro contemplar, nessas ocasiões, um céu azul, quando desce a noite quero-a cravejado de estrelas. Ou molhado por uma chuva mansa, serena e benfazeja. A chuva me tranquiliza. Gosto dela. Lava-me a alma de todas as tristezas. Até quase me anestesia. Sua bonita zoada e o vento que a fustiga por vezes induzem-me ao sono.
Depois de ler essas frases não parei mais. Na capital, a noite estava clara, convidativa, alcoviteira. Depois do banho tomado, o corpo saciado pela refeição noturna, o melhor convite recebido foi continuar a leitura das últimas horas. Se por um lado deixei de contemplar, ao vivo, o céu estrelado, por outro, as páginas desenhadas com o pensamento do autor me levaram a ver, em devaneios, o que a natureza, todos os dias, costuma nos presentear.
Li, como se diz, num pulo o livro “Crônicas Anacrônicas” de Obery Rodrigues. Encantou-me. Fez-me fã. Na volta, a crônica não de crítica literária, mas de agradecimento por ter tido o prazer e o privilégio de ler ensinamentos de como escrever e conquistar.
Depois disso, tornamo-nos amigos. Dia 20, agora, esse jovem senhor completou 89 primaveras bem vividas, bem cuidadas, bem compensadas. Daqui da terra de Santa Luzia, o abraço apertado, o desejo de que a soma desses dois números seja dos anos vindouros de sua existência.
Ah! Quase que me esquecia: duas semanas atrás, escrevi uma crônica, na qual, propositalmente, não citei o nome dele. Hoje, quero te dizer que, na ordem das preferências, o teu nome vem em primeiro lugar. És o meu cronista favorito!
Meu amigo, Feliz Aniversário! Deus te abençoe sempre – a ti e a tua família.