Aleluia, Pret-à-Porter! ( Crônicas da Amendoeira )
Rio das Ostras registrou, em plena Semana Santa, o seu dia de terror. Indignado e comoventemente triste, Pret-à-Porter me disse que a Cidade conhecera a face sem rosto da violência em seu rarefeito respeito à condição humana. Mas é assim mesmo o dileto amigo. Seu tom empolado, dígno de um Machado Penumbra oswaldino, não é esnobismo. Pret-à-Porter nascera para ser um Quixote da Língua e, como Lineu com suas espécies imutáveis, também ele era um fixista convicto. Fora criado pelo avô, um barão arruinado de Cantagalo. O lunático velhinho perdera a fortuna, mas não a pose que, orgulhosamente, transmitira ao neto como herança genética. Mas vamos aos fatos antes que se enfarte a crônica. Dois homens foram assassinados na Rodoviária, a menos de 100 metros da praça principal da Cidade onde assistíamos, Pret-à-Porter e eu, a encenação pública da Paixão de Cristo. E, nessa hora, o trágico fundiu-se ao cômico, embora o velho e aposentado operador de águas da Cedae tenha me repreendido pelo que chamou excesso de risos, quando nos recolhemos ao teto protetor da Amendoeira. Mas ocorre que justamnete nahora em que Pilatos ordenava ao povo que escolhessem entre Barrabás e Jesus, deu-se o bafafá. Corre-corre, esbarrões e o pipocar de tiros nada festivos, arremessaram a multidão, esta já indignada com a escolha popular - como se vê, há muito manipulada - pelo beligerante amigo de Judas, aliás, já enforcado no portentoso ficus que dá para a praia.
Barrabás esperava que soltassem suas amarras quando pôde ver, estarrecido, a um lépido Jesus meter-se entre a multidão e bater em retirada na direção da praça São Pedro que, mesmo o tendo negado por três vezes, era, no momento, um lugar muito mais seguro. E que assim seja. Não foi crucificado, mas, por via das dúvidas, retirou-se para Bom Jesus do Itabapoana até as coisas se acalmarem.
Aldo Guerra
Rio das Ostras, RJ.