A nota de 20
A nota de 20
Dizem que, numa certa tribo, na África, quando um individuo faz uma coisa errada, ele é colocado em determinado local e a tribo inteira fica ao redor dele, falando.
Sabe o que eles falam? Te dou dois segundos pra pensar.
Pronto.
Falam sobre todas as coisas boas que ele fez na vida. Todas as suas qualidades. Para que ele se lembre.
Lá, eles acreditam que todo homem é intrinsecamente bom.
Ah, o título desta crônica - “A nota de 20”. Sobre um negócio que eu vi outro dia. O cidadão fez na minha frente. Já eu conto.
Antes preciso recheá-la, como um pastel ou uma salsicha para chegar ao final, até o desfecho, digamos assim.
Alguns episódios na vida são tão simples e possuem um poder de comunicação tão grande que dispensam quaisquer artifícios.
Quando Gandhi foi para Londres conhecer o rei, vestia uma modesta bata. Os repórteres perguntaram: não tem vergonha de se apresentar ao rei vestindo só isso? Gandhi disse não e acrescentou: o rei está vestido por nós dois.
Bem, a nota de 20, amarelinha, tem um mico-leão-dourado desenhado nela.
Outros episódios na vida necessitam de uns floreios.
O proprietário de umas terras, querendo desfazer-se delas, pediu ao poeta Olavo Bilac para redigir um texto, que seria colocado no jornal sob o titulo de “vende-se”. Grosso modo, eis o anúncio: vendem-se belas terras com árvores seculares e frondosas, águas límpidas, rumorejantes, topografia graciosamente ondulada, pastagens verdes com flores, pássaros silvestres, etc. Quando o sujeito leu a descrição, exclamou: ops, isso é meu?!! Não vou mais vender.
Enfim, a nota.
O cidadão fez na minha frente.
Ele falava com outra pessoa e queria sublinhar um ponto de vista. Então tirou a nota da carteira, esticou-a e disse: vamos fingir que essa nota é você, ok? E agora ela está assim, toda esticada, bonitinha. Quanto ela vale?
- Vinte – respondeu o outro.
Daí o dono da nota dobra ela em dois e depois em quatro e indaga de novo: Quanto ela vale?
- Vinte – murmurou o outro.
Então a nota é amassada e amassada a ponto de ficar feito uma bola. E a pergunta soa no ar: Quanto ela vale?
- Vinte – torna a responder o outro.
(Aconteceu diante dos meus olhos).
E o demonstrador, com a nota toda amarfanhada na mão, joga-a a no chão e pisa em cima dela. Mais uma vez indaga: Quanto ela vale?
- Continua valendo vinte... – respondeu o outro, com os ombros caídos e o ar de quem captou a mensagem.
O amigo, porque trata-se de um amigo e o que eu vi foi uma demonstração de amizade, empenhou-se até que o destinatário deste exemplo compreendesse: amassado, debaixo da sola de um sapato ou empertigado, você continua tendo o seu valor.
Básico, mas nesse caso não é apenas a informação que conta.
O gesto conta muito. Provavelmente mais do que 20 (vinte).
A nota de 20
Dizem que, numa certa tribo, na África, quando um individuo faz uma coisa errada, ele é colocado em determinado local e a tribo inteira fica ao redor dele, falando.
Sabe o que eles falam? Te dou dois segundos pra pensar.
Pronto.
Falam sobre todas as coisas boas que ele fez na vida. Todas as suas qualidades. Para que ele se lembre.
Lá, eles acreditam que todo homem é intrinsecamente bom.
Ah, o título desta crônica - “A nota de 20”. Sobre um negócio que eu vi outro dia. O cidadão fez na minha frente. Já eu conto.
Antes preciso recheá-la, como um pastel ou uma salsicha para chegar ao final, até o desfecho, digamos assim.
Alguns episódios na vida são tão simples e possuem um poder de comunicação tão grande que dispensam quaisquer artifícios.
Quando Gandhi foi para Londres conhecer o rei, vestia uma modesta bata. Os repórteres perguntaram: não tem vergonha de se apresentar ao rei vestindo só isso? Gandhi disse não e acrescentou: o rei está vestido por nós dois.
Bem, a nota de 20, amarelinha, tem um mico-leão-dourado desenhado nela.
Outros episódios na vida necessitam de uns floreios.
O proprietário de umas terras, querendo desfazer-se delas, pediu ao poeta Olavo Bilac para redigir um texto, que seria colocado no jornal sob o titulo de “vende-se”. Grosso modo, eis o anúncio: vendem-se belas terras com árvores seculares e frondosas, águas límpidas, rumorejantes, topografia graciosamente ondulada, pastagens verdes com flores, pássaros silvestres, etc. Quando o sujeito leu a descrição, exclamou: ops, isso é meu?!! Não vou mais vender.
Enfim, a nota.
O cidadão fez na minha frente.
Ele falava com outra pessoa e queria sublinhar um ponto de vista. Então tirou a nota da carteira, esticou-a e disse: vamos fingir que essa nota é você, ok? E agora ela está assim, toda esticada, bonitinha. Quanto ela vale?
- Vinte – respondeu o outro.
Daí o dono da nota dobra ela em dois e depois em quatro e indaga de novo: Quanto ela vale?
- Vinte – murmurou o outro.
Então a nota é amassada e amassada a ponto de ficar feito uma bola. E a pergunta soa no ar: Quanto ela vale?
- Vinte – torna a responder o outro.
(Aconteceu diante dos meus olhos).
E o demonstrador, com a nota toda amarfanhada na mão, joga-a a no chão e pisa em cima dela. Mais uma vez indaga: Quanto ela vale?
- Continua valendo vinte... – respondeu o outro, com os ombros caídos e o ar de quem captou a mensagem.
O amigo, porque trata-se de um amigo e o que eu vi foi uma demonstração de amizade, empenhou-se até que o destinatário deste exemplo compreendesse: amassado, debaixo da sola de um sapato ou empertigado, você continua tendo o seu valor.
Básico, mas nesse caso não é apenas a informação que conta.
O gesto conta muito. Provavelmente mais do que 20 (vinte).