O Misantropo
 
 
 
                        - Infelizmente, Gil, estou me tornando um misantropo de carteirinha. Não suporto mais a hipocrisia do ser humano.
                        - Que é isso, Eurico. Não sei se você sabe que o misantropo passa a odiar toda a humanidade. E acaba num isolamento terrível.
                        - Mas é o que está se sucedendo comigo, meu amigo.
                        - Veja bem, Eurico, na verdade o misantropo é um ressentido com as “pauladas” que levou na vida. E isso demonstra, nada mais, nada menos, que você está muito centrado no seu “euzinho”. Já parou pra pensar que, diante da grandeza do universo, somos insignificantes?  E que nossa passagem pela vida é tão rápida que não vale a pena ficarmos amuados com a vida?  Há tanta coisa interessante pra se ver, para se fazer, meu amigo! O mundo é um espetáculo inesgotável!
                        - confesso que não consigo sair desse estado de espírito.
                        - uma coisa que você deveria fazer imediatamente seria cultivar um bom-humor. Brincar com os acontecimentos da vida.  Fazer como faz o Gustavo, um infeliz no casamento. Ele se dedica a tantas coisas boas da vida, que esta circunstância do casamento passa a ser secundária. Ajuda todo mundo, mostra interesse pelo avanço da ciência. Se dedica à astronomia, ao xadrez. Enfim, não se deixa abater e não perde a esperança na humanidade.
                        - dê um exemplo dessa habilidade para brincar que o Gustavo tem.
                        - olha, ontem mesmo me encontrei com ele e veja o que me disse: - “Gil, cheguei à conclusão de que o homem deveria casar com outro homem. E não sou gay, não confunda as coisas.”
                        - sei, não confundo as coisas e sei que você é macho dos bons.
                        - “pois é, você sai de casa e leva três dias pra voltar. O seu companheiro jamais vai reclamar da sua ausência. Não vai reclamar da sujeira que você faz. Não se importa que você beba cerveja na cama, que fume e que fique vendo o seu time na televisão. Enfim, não chateia nunca.  E sabe o quê mais?  Eu, se não fosse aquele órgão sexual que elas têm, sinceramente, nem as cumprimentava mais.”
                        - Gil, vou pensar no seus conselhos. Essa do Gustavo foi demais. E você? Deixava também de cumprimentar as mulheres?
                        -  Eurico, acho que sou sem-vergonha,  não consigo deixar de cumprimentá-las...