Sobre o que respondo

Conheço uma terapeuta que, diante do imediatismo com que respondemos às suas perguntas, costuma concluir tristemente: “Você responde sem pensar”. E, de fato, quando penso sobre o que respondo, percebo que não penso quando respondo. Arrumei para mim uma porção de certezas, muitas delas bastante convenientes, e estou sempre disposto a repeti-las automaticamente. Agindo assim, livro-me de um problema e evito as responsabilidades que uma nova atitude exigiria. Sem pensar, sou capaz de construir toda a minha vida, e ainda assim defendê-la ardentemente. Cometo injustiças e me coloco como vítima. E sob hipótese alguma considero voltar atrás.

Mas não acho que estou sozinho nessa. Imagino que em uma nação existem muitas pessoas que também respondem sem pensar. Também imagino que essas pessoas podem ser maioria e, democraticamente, decidir os rumos de um país. Podem exercer uma pressão tão grande que os outros, aqueles que eventualmente pensam, serão obrigados a renegar conclusões que tiveram justamente por não responder de forma automática. Aquele que se insurgir contra uma opinião majoritária será fatalmente conduzido ao posto de inimigo do povo.

Essa conflito foi habilmente tratado na peça que Ibsen chamou, justamente, de “Um Inimigo do povo”. O Dr. Stockmann havia descoberto que a água do balneário de sua cidade estava contaminada. Sentiu-se na obrigação de levar a verdade ao povo. Mas o balneário era justamente a fonte de renda local. A denúncia obrigaria a fechá-lo por dois anos, mas o estrago na imagem local poderia ir além. Nunca mais se acreditaria na qualidade daquela água. Daí a fazer do Dr. Stockmann um inimigo da cidade é um passo.

Precisamente para não dar este passo é que tenho acompanhado com muita cautela as ações do STF e as reações da sociedade, admitindo minha dificuldade em discernir o fato da paixão, cada vez mais presente nos discursos favoráveis e contrários. Infelizmente, a hesitação é uma consequência de pensar.