Vôo de Pássaro
E o frio na barriga aumentava...!
Ali no Aeroporto, procurava me entreter com alguma coisa, para que o tempo passasse mais rápido...mais de 40 minutos para o embarque...
Era a primeira vez que eu voava. Ouvia, dias antes, o relato entusiasmado de minha irmã que havia feito uma viagem para Natal-RN, e me dizia todos os detalhes de como eram o pouso e decolagem...eu absorvia cada palavra, imaginava e vivia cada lance...Mas ali, em vez de apenas adentrar em um ambiente imaginário, estava eu, prestes a vivenciar uma experiência inédita..
O tempo foi passando - observava o vaivém das pessoas pelo saguão imenso de Congonhas, e ficava aliviado em saber que tudo estava na maior tranqüilidade - os controladores trabalhavam normalmente, deixando as lembranças do caos da semana anterior para trás, como uma simples bagagem extraviada...
Faltava cinco minutos. Decidi levantar para o embarque. Mochila nas costas, outra bolsa nas mãos, o olhar de alguém que anseia por experimentar o novo, a curiosidade e os sentimentos à flor da pele, ansioso por vivenciar tais emoções dali a alguns minutos.
Fui para o portão de embarque - número 8. Aguardei sentado por alguns instantes enquanto ouvia no sitema de som as chamadas para embarque de outros destinos. Vez por outra perguntava a algum funcionário sobre o meu vôo, ao que me diziam com sorriso polido para aguardar. Alguns minutos depois, ouço a informação de que por motivos de reposicionamento de aeronaves, o portão de embarque não seria mais aquele, e sim o de número 20(!). Saio apressado pelo saguão, preocupado em não perder o vôo, pensando na minha amiga que estava a me esperar lá do outro lado da ponte aérea, o que me faz apertar ainda mais o passo. Vou desviando das pessoas pelo caminho, desço as escadas rolantes, e já visualizo uma fila. Ando com mais calma, a ansiedade aumenta "é agora, seu Marcio", dizia com meus botões...Entro no ônibus que nos levaria até o avião - ainda tem lugares para sentar, porém prefiro ficar de pé. Me distraio ao observar o cuidado de uma mãe com seu filho de meses no colo e o cavalheirismo de um senhor que cede seu lugar para a mesma - "o mundo ainda não está perdido", penso, enquanto observo o sorriso inocente do bebê para todos ali dentro.
O ônibus parte lentamente, a 20Km/h e em instantes estamos diante da aeronave, prestes a levantar vôo. Me sento na janela - visão privilegiada, Uma felicidade incontida invade meu coração, já que dali a minutos abraçarei uma amiga que muito prezo, e que não a vejo desde outubro passado. Ouço o comandante se apresentar e dizer que "O Rio continua lindo - céu azul, 29ºC, ou seja - tempo de praia!". Sorrio na hora, imaginando a Cidade Maravilhosa e seus encantos. Somos informados dos procedimentos de segurança, e a informação da autorização de vôo. A nave se posiciona, a velocidade das turbinas está muito veloz, mas ainda abaixo das batidas do meu coração - este, numa rotação muito maior! E, de repente, para minha alegria/surpresa/espanto, minha cidade, com sua imensidão titânica, vai ficando menor, se apequenando, até sumir entre as nuvens, e ao atravessar esta massa branca, mais ao alto, uma visão de tirar o fôlego - já não via o dia nublado de há minutos, mas uma enorme "plantação de algodão" abaixo, com um céu de um azul profundo e belo como não se vê todos os dias. Sorri de uma satisfação ímpar, e pensei comigo: "Felizes são os pássaros em poder desfrutar de tudo isso, de peito aberto, de encontro ao vento, ganhando altura, até bem pertinho de Deus!"