SÉRIE FIGURAS DA BAHIA - GENÁRIA GUIMARÃES: O TEMPO DAS PARTEIRAS

Tenho um amigo, que não vejo há alguns anos, cujo nome é Eurico Guimarães. Filho de dona Genária, conhecida parteira que morava na rua Lima e Silva, na Liberdade, em Salvador, próximo ao Colégio Duque de Caxias.

Nos conhecemos nos idos dos anos 1960, quando namorávamos duas belas garotas da família Fernandez.

O Eurico é um belo rapaz, muito educado e por quem dona Genária sempre demonstrou muito amor e carinho. Formamos uma grande amizade e chegamos a freqüentar com certa assiduidade a casa da família da matriarca e lutadora, parteira Genária Gimarães.

Perdemos o contato em virtude das mudanças que tive na vida, após a morte do meu pai, em 1962 e a minha ida para o Rio, em 1970. Quando voltei para revê-los se haviam mudado de endereço e os vizinhos não sabiam o local da sua nova residência.

Quem sabe, alguém que estiver lendo este texto, a tenha conhecido, ou mesmo, tenha sido ‘aparado’ pelas suas habilidosas e carinhosas mãos. Dona Genária falava com orgulho do seu parente Mário Guimarães que fora Desembargador em São Paulo e cujas referências vejo estampadas na fachada de um Forum na capital paulistana.

Até a época em tela, (década de 1960), com os hospitais proliferando aqui e ali, a figura da parteira era indispensável, mesmo na capital da Bahia. Naquela tempo, os partos à la ‘cesariana’, eram exceções, na acepção do termo. Raras vezes uma mulher era levada para dar à luz num hospital. O nascimento da maioria de classe média para baixo, dava-se no ambiente familiar e as ‘parteiras’ eram tratadas pelas crianças pelo carinhoso ‘dinda’, que significa madrinha.

A dona Genária atendia suas parturientes a qualquer hora, do dia e da noite. Numa época em que telefone era para meia-dúzia, os chamados eram feitos na sua porta, com os familiares da futura mãe, quando não, ela própria tocando a campainha. E lá ia dona Genária cuidar do seu belo mister de ‘aparar’ e cuidar do recém nascido, fazer a assepsia até a queda do umbigo, quando passava para o médico de família o acompanhamento do bebê.

Tínhamos uma certa simpatia mútua. Ela sabia que seu filho Eurico andava comigo e tinha certeza de que ele era muito bem acompanhado. Daí porque, tratava-me como alguém da família.

Esse registro eu já devia tê-lo feito, mas a lembrança surgiu agora e a hora é sempre a atual, quando batem a inspiração e a saudade, junto com a oportunidade.

Nos próximos artigos, falarei das parteiras Ignês Alakija (Salvador) e Ana Joaquina (Poções).

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 20/09/2013
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