OUTROS TEMPOS

A campainha toca, dim-dom, não, não é o Avon chama,

é o carteiro.

-Encomenda para Arnaldo!

-Bom dia, obrigado!

Entro, abro a caixa, muito bem lacrada, e antes de divisar o conteúdo, os indefectíveis plásticos bolhas, felicidade para alguns, que os usam contra o stress, infelicidade para outros, com seu ploc-ploc. Lá estão os três volumes pedidos, “ A revolta de Atlas “ de Ayn Rand.

Que maravilha o mundo moderno, consulto títulos, leio sinopses, vejo preços, faço pedidos, pago com cartão de crédito, acompanho o andamento do pedido e entregam em casa. É o supra sumo da comodidade. Isso, se não quiser comprar um e-book, satisfação imediata num piscar de olhos, digo, num teclar de dedos.

Subitamente batem-me duas saudades “coisas de velho”.

1ª) Saía de casa, cumprimentava um monte de conhecidos, pegava um ônibus com cheiro de gente, sentava na janelinha, ia apreciando o movimento, descia no ponto, nem sempre certo, e caminhava até a livraria. Lá, cercado de gente esquisita, no Brasil quem lê é esquisito, ficava horas impregnando-me com aquele cheirinho de livros, folheando-os, trocando impressões com outro esquisito e saía feliz carregando meus volumes. Ficava lendo no ponto de ônibus e vez por outra perdia a condução, pouco importava, era uma felicidade.

2ª) Como era gostoso escrever uma carta, caprichada, com letras redondinhas, quase uma obra de arte, contando velhas novidades e sair para levá-las ao correios. Lá chegando, comprar o selo, passá-lo naquele negócio redondo com cola, imaginando a pessoa querida recebendo-a das mãos do carteiro e sofregamente abrindo-a para matar a saudade. Sem contar a ansiedade do recebimento da resposta, que sempre tardava, nada era rápido, mas a emoção do bater palmas do carteiro era indescritível.

No novo mundo a saudade está logo ali, numa rede social, num e-mail, num Skype. Continua existindo mas é cada vez mais rápida e fugaz.

Eu era feliz e continuo feliz, mas a saudade teima em não ir embora.