O DOM E O AMOR.

“Por sua natureza o dom ultrapassa o mérito; a sua regra é a excedência. A verdade que é dom tal como a caridade é maior do que nós.” Santo Agostinho

Neste espaço se encontra a natureza da criação. O dom é excedência. O mérito fica contido diante do dom. Assim são explicados os grandes talentos, pelo dom.

Não há mérito verdadeiramente reconhecido, na sua expressão de grandeza mais significativa, que se entende e ajusta bem à singeleza, que não tenha origem no dom. Há mérito sem dom, mas não dom sem mérito.

E pode-se dar exemplaridade para tanto. Ninguém que blefa ascende a reconhecimento de nota, com projeção alargada, elástica. Nunca ultrapassará os ajustes de um pequeno sítio paroquial, um quintal onde a vontade se retrai e se mostra revoltada. Só o dom abre portas. O mérito define trabalho e esforço, mas não supre jamais a excedência do dom. O mérito é como a brisa que pode ser suave, mas não apaixona pela força e superioridade como o furacão, que quer ser visto por todos, embora temerosos, pelo que traz de surpreendente e envolvente.

Dom é fruto da natureza, como o furacão, não do trabalho, do mérito. E o dom vem sempre envolto na reta lisura, na certeza moral linear de jornada sem curvas, desvios abruptos. O dom não fraqueja e nunca cairá vencido.

Não há mais clareza do que estar ao lado da inocência, o amor mais puro. Inocência também é dom. O homem nasce inocente, a criança é o maior testemunho dessa verdade. Saindo das trevas que nada distinguem, desaparecida a inocência que surge com a consciência, balizando o que seja o bem e o mal, resta comprometido o amor.

Só ama incondicionalmente aquele que não necessita do arbítrio para dirigir sua vontade, nessa condição ama sem recusas ou preitos de retorno. Não acabará, contudo, o amor como sinaliza São Paulo, por nascer bom o homem, sendo assim seu interior. A bondade originária desnecessita ser procurada, é dom, nos foi concedida pelo simples nascimento.

Conhecendo-se integral e verdadeiramente, o homem verá em si mesmo a razão pela qual veio ao mundo, para amar, inicio, meio e fim de sua chegada, e por esse caminho entenderá, e só por ele exclusivamente, de onde veio e para onde irá após cumprir sua jornada, que será envolvida pela máxima força que o gerou, fonte e nutriz de seu ser, sendo dela máxima e pregão, pregador e pregoeiro, mensageiro e receptáculo, devendo propagá-la nesse tom, com esse timbre, sonante e espectral, transpondo fronteiras visíveis e invisíveis, para após ir ao encontro de Deus. O amor jamais acabará.

“O amor jamais acabará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá. Com efeito, o nosso conhecimento é limitado, como também é limitado nosso profetizar. Mas quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas, então veremos face a face. Agora, conheço apenas em parte, mas, então, conhecerei completamente, como sou conhecido. Atualmente permanecem estas três: a fé, a esperança, o amor. Mas a maior delas é o amor.” Coríntios. Cartas. São Paulo.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 19/09/2013
Reeditado em 19/09/2013
Código do texto: T4489477
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