Afundar, afogar, morrer
Gelada, como temeu que estivesse. Olhou ao redor na esperança de uma saída e não encontrou nada. Fechou os olhos por um instante e teve a impressão de que todo mundo o observava. Assustado, tratou de voltar a ver. Ninguém prestava atenção. Mas continuava gelada. Se ele demorasse mais um pouco o instrutor perceberia e viria perguntar o que estava acontecendo. Definitivamente, precisava entrar. Viu as crianças que já estavam dentro, molhando-se mutuamente, as crianças que nunca sentiram medo algum. E ele ali, um baita homem feito. Tem até graça. Pulou.
Deu-se conta então do absurdo, porque a temperatura já não era mais tão desagradável. Agora, grotescamente, se debatia para ficar em pé e caminhar até a outra borda. Estava na parte mais rasa. Mesmo assim, sentia que estava sempre escorregando e que a qualquer momento iria se afogar e, em consequência, morrer. Era a batalha da sua vida, mas podia sentir o tom de deboche nos comentários do instrutor – o que, aliás, achava até justificável. Ainda levaria muito tempo até que se acostumasse, debatendo-se de forma menos desengonçada. Mas então era tempo de novos medos.
Acharam que já estava na hora de ir até o outro lado, até a parte mais funda, onde nem ele e nem ninguém conseguiria encostar os pés no chão. Na visão embaçada de seus óculos, olhou com temor para aquilo que o aguardava. Inspirou, soltou embaixo, levantou a cabeça para pegar mais ar, tornou a soltar, sempre batendo sofregamente as pernas, e assim se aproximou das profundezas do abismo, que assim lhe pareciam em seus pesadelos. Era uma operação complexa. Sabia que não conseguiria prever o momento exato de tocar a borda. Isso exigiria reflexos rápidos: assim que a tocasse, deveria se preparar para retornar, mantendo o equilíbrio a todo custo, agarrando-se a uma raia se fosse preciso, fazendo tudo o possível para não afundar, afogar, morrer.
E quem o visse jamais diria que ele havia passado tanto tempo nadando no útero materno.