Ira: Pecado ou libertação?
Era um sol lindo que brilhava sobre todas as cabeças praticamente igual. Saiu do banho cheirando a rosas, dando voltas pela casa toda, cantarolando muitas musicas clássicas, desvestindo shorts, colocando vestidos, até se ajeitar de maquiagem leve e inocência na mente.
Quando seus pés sentiram o sol de fora, as vozes na rua, as energias em sua volta, lembranças captadas do mais tenro mundo abafado...paralisou. Sua expressão mudou bruscamente, suas mãos se fecharam como se fossem socar alguém em punho. Estremeceu, calafrios correram pelo corpo todo, os olhos avermelharam de raiva, com um pouco de lagrimas nos cantos, os ombros enrijeceram e assim caminhou até o portão e o abriu. Saiu. Andou. Não mais sorriu.
Confusa em sua ira, voltou para sua casa pegar teu carro e cantou pneus até onde pode. Cada vez mais estava dominada por um ódio, cuspiu para o próprio espelho que mostrava sua face, menosprezou aquela figura imunda que via no retrovisor. Quando chegou a teu destino, saiu com certa delicadeza forçada do carro, deixou caírem os saltos no asfalto de forma decidida, pegou a bolsa. Tocou a campainha.
Antes que pudessem lhe bater a porta na cara, escapou um oi meio tristonho, sem pretensão de brigas, e assim conseguiu a aproximação de quem queria.
Olhou no fundo dos olhos, ficou ali como antes contemplando aquele mar imenso que dominou por tanto tempo teus sonhos e pesadelos, tuas insônias e gozos.
Abriu um sorriso bonito, aberto, que foi tomando forma amigável, se abriu para um abraço, e quando caiu de forma desprovida nos braços de quem lhe acolheu ali, naquela calçada, seus risos foram aumentando, tornando gargalhadas. Soltaram-lhe dos braços para perguntar que gargalhadas eram aquelas escandalosas. Mas só sabia aumentar, encostava as mãos na barriga e ria, ria, gritava de tanto gargalhar, quando se deu por si estava gritando e batendo as mãos no portão. Descontrolada e sem enxergar nada a sua frente, depois um tempo sem respirar e se possuir de ira, viu em tua frente, o corpo da amada estendido, ensanguentado, com marcas de faca, com pedaços de carne por todos os lados. Olhou a faca em tuas mãos sujas, o sangue que pingava...riu, riu, gargalhou e gritou, nem sentiu quando algumas pessoas lhe seguravam. E dizem...que quando foi arrastada, foi dando risinhos leves, soltava um balbucio aliviado, dizendo que nunca esteve melhor.