O VERDADEIRO PAPEL DO EDUCADOR
Quando era criança destacava-me de outras crianças de minha idade nas tarefinhas diárias que realizava, até que um dia minha mãe colocou-me em uma escola para ser alfabetizada, pois já estava na idade de começar a estudar.
No primeiro dia de aula estava radiante, pois era meu grande sonho estudar, contava nos dedinhos os dias para ir para meu primeiro dia de aula.
Minha família era muito humilde, e minha mãe fez o máximo de esforço possível para matricular-me em uma escolinha próxima de casa, infelizmente não pode comprar o material completo e fui para escola apenas com um caderninho e um lápis de escrever, como não tinha roupas novas usei as de costume e calcei meu único chinelinho de dedo.
Mesmo diante das dificuldades sentia-me feliz, pois queria muito conhecer minha professora e meus novos coleguinhas e aprender a escrever logo para poder enviar uma cartinha de agradecimento para minha mãe e outra para minha professora.
Radiante e muito alegre cheguei a escola para meu primeiro dia de aula. Então, pude observar que meus coleguinhas estavam muito bem vestidos, com material escolar completo, mochilinhas novas e minha professora parecia uma princesa de tão linda.
Nossa! Era tudo tão diferente das coisas que já havia visto e entusiasmei-me com tudo o que via.
De repente a professora passou uma atividade no quadro e sem perder tempo peguei meu caderninho e tentei realiza-la.
Ao terminá-la gritei bem alto:
-Tia meu dever está pronto!
Queria que minha professora soubesse o quanto era importante alcançar todos os objetivos propostos por ela, pois para mim ela era uma espécie de fada madrinha em meu mundo lúdico e inocente.
-Tudo bem! Depois eu vejo! Respondeu de um jeito rude e seco.
Então abaixei minha cabeça e esperei meus coleguinhas terminarem suas atividades também.
Logo fiquei surpresa ao ver uma coleguinha sentada ao lado da mesa da professora, ela estava tão bem arrumadinha que mais parecia uma bonequinha de porcelana, então ela falou a professora:
-Tia já acabei minhas tarefas.
Percebi que a professora direcionou-se até sua mesa e escreveu em seu caderno uma mensagem de parabéns. E falou para toda turma:
-Observem turma, a coleguinha de vocês já concluiu as tarefas e está de parabéns! Agora faltam vocês.
Ela sentou novamente em sua cadeira sem olhar para as minhas atividades que já haviam sido concluídas há tempos atrás.
Senti-me triste com a situação, pois não entendia o que havia acontecido.
No outro dia a história novamente repetia-se e outra vez minha professora não deu atenção para as tarefas que eu conseguia realizar antes mesmo dos meus coleguinhas.
Passados alguns dias, deixei de realizar as tarefas que a professora designava-me e comecei entristecer-me com meus coleguinhas que sempre evitavam brincar comigo no horário do recreio, pois tinham vergonha de estarem perto de uma menininha desarrumada.
Até que um dia a professora passou uma tarefa e olhou os cadernos de todos os alunos presentes na sala de aula. Passou de carteira em carteira dando nota para a atividade realizada. Quando chegou à minha carteira eu não havia feito o dever, pois ela nunca dava importância nenhuma as atividades que eu conseguia realizar.
-Onde está sua tarefa? Exclamou em alto tom.
-Ainda não terminei tia. Respondi abaixando minha cabeça na carteira.
-Ainda não realizou suas tarefas? Estou cansada de alunos como você, que só vem para escola comer na hora da merenda, não tem material e ainda não realiza as atividades propostas.
Vai ficar com zero! E da próxima vez que isso acontecer irá para a diretoria ficar de castigo, entendeu?!
Assustei-me com o tom de voz da minha professora e com suas ameaças, tudo que precisava era de um pouco de atenção, mas ela não havia percebido isso. Abaixei a cabeça e chorei muito, até terminar o horário da aula.
Nos dias que se seguiram os coleguinhas começaram a sorrir de mim, me apelidaram e me excluíam dos grupos deles, pois se até a professora havia me tratado daquela maneira eles não me tratariam de forma diferente.
Sentia-me sozinha e triste. Minha mãe não podia ajudar-me, pois trabalhava o dia todo e meus irmãos não entendiam o que estava acontecendo, pois eram todos pequenos como eu.
Aos poucos fui deixando as palavras amargas da professora e de meus coleguinhas invadirem meu coraçãozinho e de repente já não tinha mais nenhuma vontade de ir para escola, todos os dias quando dava o horário de arrumar-me para estudar ficava chorando e entristecia-me muito.
Minha mãe, sem perceber o que estava acontecendo obrigava-me a ir para a escola mesmo chorando bastante.
Passaram-se os meses e cada dia eu ficava pior, até começar a ter febre no horário de ir para escola. Neste momento minha mãe sentiu que estava acontecendo alguma coisa muito estranha e levou-me a um médico que a informou que havia algo de errado no ambiente em que estudava.
Então, minha mãe parou para ouvir-me e ficou surpresa com as coisas que falei para ela, pois depois de muita insistência de sua parte relatei com meu jeito de menina como era meu cotidiano na escola.
Ela constatou as agressões psicológicas que eu estava sofrendo, mas de maneira tardia, pois quando foi até a diretoria relatar os acontecimentos e entregar o laudo do médico, eu já estava reprovada por falta de nota e participação em quase todas as disciplinas.
Já havia passado mais da metade do ano e eu não havia acompanhado a turma:
Não havia aprendido as vogais e o alfabeto;
Não havia aprendido a escrever meu nome direito;
Não havia aprendido a escrever a cartinha que tanto queria para presentear minha mãe e minha professora;
Estava muito infeliz;
Havia emagrecido e perdido a vontade de ir para escola.
Era uma das únicas crianças da classe nesse estado, então minha mãe resolveu tirar-me da escola até o ano terminar.
Fiquei em casa até o final daquele último semestre letivo e quando começou o outro ano minha mãe matriculou-me em outra escola relatando os fatos acontecidos no ano anterior para os diretores da nova escola e para minha nova professora, que demandou cuidado especial comigo:
Sempre dava-me atenção;
Valorizava as tarefinhas que eu conseguia realizar;
Parabenizava os deveres de casa que levava para a escola prontos;
E trabalhava constantemente minha socialização com os outros coleguinhas, não permitindo nenhuma discriminação por eu ser uma criança que não tinha uma família com recursos financeiros.
Resultado:
No final do ano letivo era a aluna destaque da sala:
Escrevia como nenhum outro aluno da turma;
Terminava sempre minhas tarefinhas em primeiro lugar;
Ajudava meus coleguinhas com as tarefinhas deles;
Era muito obediente e respeitava muito minha professora;
Consegui escrever minha primeira cartinha para minha mãe e também para minha professora.
Hoje sou adulta, mas nunca me esqueci do que passei quando ainda era tão pequenina e então, resolvi ser professora, pois entendi que a postura de um professor pode mudar o destino de uma criança.
Quantas crianças nãos estão tendo suas capacidades castradas por profissionais que não amam sua profissão?
Quantas crianças, adolescentes e até mesmo adultos terão suas forças renovadas ao encontrar em seus caminhos educadores que acreditam no poder de transformação que a educação exerce onde há terreno fértil para o crescimento de sua semente?
E, acreditando nesse poder de transformação que existe em um processo ensino-aprendizagem de qualidade, parabenizo a todos educadores que trabalham com amor e que passam a vida plantando essa semente em tantos corações.
Parabéns a todos os Educadores que descobriram seu verdadeiro papel e sua importância na educação!
*RELATO FICTÍCIO!