Ode ao amor próprio.
Por Carlos Sena
Sempre as relações: há relações sociais e há também as “ralações sociais”. As duas são hóspedes de uma mesma “residência”, só que uma fica na suíte e outra no quarto da empregada. Vez por outra elas se alternam entre si e o que seria relação vira ralação e vice versa. Um exemplo típico de relação é quando ela envolve pessoas que se gostam de verdade. Isso se dá, naturalmente nas relações de afeto, de amor, principalmente. Mas, há momentos em que essa relação pode se converter em ralação, principalmente quando há desgastes interpessoais motivados por uma terceira pessoa real ou fictícia. Real na medida em que, de fato, há uma traição. Fictícia quando um dos entes bota na cabeça que está sendo traído, mesmo sendo produto da sua imaginação e da sua “cabeça”...
As ralações sociais geralmente acontecem por falta de sentido prático da vida. Algo como não ter certeza de que na vida nada é pra sempre e que “ninguém é de ninguém”, como na canção popular. As relações começam a virar “ralações” quando o interesse dos parceiros fica subvertido por coisas que não são a própria relação em si. Algo como patrimônio do casal, posição social e alhures.
Assistir a uma pessoa implorar ao seu parceiro que não a deixe é meio que surreal. Muitas vezes esse “clima” perdura anos e aquilo que um dia foi uma relação, vira, naturalmente, uma ralação na sua pior tradução. Isso denota que esse parceiro “abandonado” deixou de se amar para amar demais o outro. Ou não. Amar não é para ser exercido em excesso, mas no ponto certo. O difícil é descobrir esse ponto de equilíbrio que é capaz de mover o mundo do afeto no que ele tem de melhor! Não raro, quem ama demais sufoca o outro e isso descamba, necessariamente, para uma vida no inferno, ou, como estamos dizendo, uma RALAÇÃO...
O final de uma ralação é imprevisível como toda relação, mas há fortes indícios de que aconteçam desfechos violentos, macabros até. Pior: tudo isso poderia ser evitado se as pessoas envolvidas no processo “relacional” se amassem mais e, melhor que implorar a alguém pra não ir embora é deixar a pessoa se ir. Assim, só, a pessoa que se ama e cai fora de uma RALAÇÃO poderá cantar no seu quarto: “começar de novo e ficar comigo, vai valer a pena ter sobrevivido”...