Crônica Segunda
Ele me dizia que tinha medo do amor. Medo das suas consequências, medo desse excelentíssimo sentimento. E sempre preferia usar termos como, paixão, afeto, apego... Preferia não se dispor tanto ao inesperado.
Pedro tinha medo dele mesmo. Tinha um medo absurdo de tudo que podia leva-lo a felicidade, e as surpresas. Sendo assim, com um de nós amedrontado, muito deixamos de fazer, de ter, e de tentar.
E o medo? É isso mesmo que ele faz. O medo nos limita, nos condena. O medo nos esconde em porões escuros e frios.
Mas eu incansavelmente dizia que o amava. O amor pra mim é inegável. E o meu amor era tanto que o entorpecia.
Muito se fala sobre o amor, e sobre amar. Mas o que é amor? É feroz ou sútil? Acalento ou perturbação? Obsessão ou desapego? Amor é o que inventamos e recriamos na nossa cabeça?
Porque o Pedro tinha medo de me amar? Porque o Pedro era fraco. Sempre foi. E eu amava sua fraqueza, mas sempre me amei muito mais.
E a minha disposição para o amor é invencível.
O amor me trouxe tantas coisas, me deu nome, me deu risos, me deu tardes e noites maravilhosas, o amor me engordou, enriqueceu meu vocabulário, me evoluiu, me desafiou, me abraçou.
O amor me comeu. O amor me vestiu. Como temer a isso?
Se vier a desilusão, a mentira ou o descontentamento. Posso até desacreditar do amor, e até passar a me defender dele como se ele fosse uma doença perigosamente contagiosa.
Mas enquanto o amor acreditar em mim, eu acreditarei nele. O usarei como uma roupa, para ir à festa que se chama vida.
P.N.