Crônica Primeira
A casa estava vazia. A mala estava vazia. O copo antes cheio d’água estava vazio. Eu estava vazia, essa cidade, e esse país.
O guarda-roupa, vazio. Mas ainda exalando o perfume das suas roupas e o calor do seu corpo, que você deixava nelas.
Perdi a chave de casa, e tudo se perdeu de mim. Perdi o chão, as palavras.
Perdi meus dentes e o meu coração numa esquina, que não lembro o nome. E não sei aonde é, porque é longe.
Eu fiquei cansada de todo o peso. Não sei ao certo, por quais ruas caminhei, levando lembranças nas minhas costas. Mas sei que elas me levaram a algum lugar. E sei também que você não estava lá. Nunca estaria.
De volta pra casa, fiz uma varredura em tudo. O meu velho pufe branco estava no mesmo lugar. Percebi que nada eu não havia perdido nada, porque nada eu tinha.
Não tinha a mim mesma, porque eu era sua. E você agora, eu não tinha mais.