Coitada da minha mãe!


Outro dia fiquei pensando em minha mãe...
Ela se foi a algum tempo,sinto  e  sentirei sempre falta da minha Maruquinha.
Se como ela,eu  tivesse tido uma filha como eu, com certeza teria ido parar no hospício.
Ela só não foi por que era muito forte, com certeza me amava demais senão já teria me dado para adoção!
Ela dizia que para seu azar, eu não tinha medo de nada, isso a preocupava,dizia que apenas crianças, loucos e bêbados não sabem o que é o medo.
Para meu pai, coitado, eu era uma santa,sua “filhinha linda”...

Já imaginou,o que é ter uma filha que vivia descabelada por que odiava pentear os quatro fios de cabelo,que se espojava no chão empoeirado com o uniforme limpinho, fazendo birra para não ir a escola.
Aos três anos se tornou fujona, especialmente a noite,não tinha medo de escuro.Que aos seis anos colocou pedras de soda cáustica na boca por achar as pedrinhas bonitas, e ficou com uma toalha de banho enrolada no pescoço para aparar a baba por mais de um mês andando em cima do sofá só tomando leite e mingau?

Com a tesoura de tosquiar os carneiros, tosquiou os primos e o próprio cabelo.
Não abria a boca para o dentista, no consultório dele  arrancava os dentes de leite sozinha.Por andar pulando nas construções enfiava prego no pé e os tirava na mesma hora  depois saia mancando e andando na ponta do pé.
Cortou a mão com faca quase decepando o polegar,correu mostrar para a mãe com a mão enrolada num trapo sujo e todo ensanguentado.

Alguém que andava para todos os lados com o Chico um macaco prego amarrado na corrente, dando comida , água  e suco na boca do bichinho.
Que fugia a cavalo  pela fazenda do avô sem aviso prévio, certa vez embriagada por tomar uma garrafa de licor de ovos e por fumar um maço de cigarros de uma só vez vomitou até a alma.
Uma pessoa que para se divertir  entrava no galinheiro,fazia furo na casca dos ovos, chupava todos eles pelo furinho, deixando só a casca no ninho?

Curiosa era a primeira a chegar num acidente para ver o que tinha acontecido, se houvesse mortos depois ia ao velório e enterro sem ser convidada.
Um “ser” que amarrava os primos nas árvores e esquecia deles, até que alguém desse falta das crianças.
Entrava no chiqueiro para  pegar bicho de pé,não tirava até que virassem “batata”,
amava a coceira que eles provocam, depois os tirava sozinha.

Que  escondido ia na “zona da tia Gasparina”  visitar as “mulheres da vida” suas amigas, e comer bolo de fubá com café, era muito querida a “neta do Seu João”, também gostava muito delas,adorava mexer  em suas  maquiagem e bijuterias,certa vez ganhou um colar com contas azuis que guarda até hoje.
Jogava pedra com estilingue no telhado e nas janelas dos vizinhos e saia correndo,só para escutar eles  xingarem, se não reagissem simplesmente ia embora.
Uma criatura que subiu no telhado de uma loja maçônica  para ver se era verdade que lá escondiam um bode preto, e saiu frustrada por que ao tirar as telhas deu de cara com uma laje; logo depois  quebrou o vidro de uma janelinha mas não viu nada interessante,era o banheiro.

Uma menina que brigava de tapa na escola, lutava bem  por que  fazia treinamento intensivo com os primos, era suspensa das aulas quase todo mês.
Alguém que amava brincar de esconder nas covas do cemitério,que enterrava suas bonecas inclusive a da tia por achar que elas não faziam nada pareciam mortas com os olhos sem expressão ,por isso mesmo tinham que ser  enterradas,numa lógica assassina!
Toda feliz e curiosa achou um gambá morto e o dissecou em cima da mesa da cozinha com a gilete de barbear do pai.....

Fugas diárias, em horários variados...

Injustamente mudaram meu nome para Terrível, suspiravam quando eu chegava e quando eu partia, todos me  amavam de verdade eu era o “dodói” de todos, me beijavam e abraçavam bastante e me davam muitos presentes,se divertiam as minhas custas mas nunca quiseram cuidar de mim nem por uma hora,não sei por que...
 
Minha mãe merece ter paz onde estiver, tenho certeza que ela está  feliz e sossegada usufruindo de um descanso bem merecido...
Calma mãe logo vou estar com você, não se assuste, hoje sou uma mulher mais ou menos calma, mas ainda   não sei se calminha...
Mas ainda adoro fugir.......




P.S.Na foto a autora.
M.H.P.M.
 
Helena Terrivel
Enviado por Helena Terrivel em 18/09/2013
Reeditado em 18/09/2013
Código do texto: T4487185
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