O Perdão
O Perdão
Era madrugada numa noite de março do ano de 2010 na cidade de Cel. Fabriciano – MG.
Ali estava eu num parque tendo apenas a lua a iluminar aquele ambiente lindo, diante de uma pequena cachoeira. Fazia meus preparativos para dar início a minha iniciação como Guardião da Grande Irmandade no plano invisível.
Depois de fazer minhas preces, sentei-me numa pedra e aguardei que meu “mestre” viesse dá inicio ao ritual de iniciação.
Não tardou e ele surgiu diante de mim, e com aquele seu sorriso que transmitia tanta paz, aproximou-se e me disse:
Antes de darmos início ao ritual, quero falar sobre o tema de hoje no plano espiritual – “O Perdão”.
Então ele levantou seus braços ao alto, e com isso sua túnica branca deu-lhe uma aparecia de assas que se erguiam por trás dele. Olhou-me e disse:
- Não basta dizer “eu te perdoou”. Tem que sentir que o teu perdão vem de dentro do teu ser, e que em momento algum, sinta qualquer dúvida de teres dado o teu perdão. O perdão é um dos mais nobres sentimentos que podemos ter, e um dos mais responsáveis, pois ao perdoarmos alguém, o estamos libertando de sua responsabilidade, uma divida contraída pelo o que ela fez, como também do carma que ela teria contraído. Vou agora te mostrar um povo que tem como o “perdão” algo tão sério e responsável, que para alguém perdoar deve ter plena consciência deste ato.
Então, nas águas que desciam pela cachoeira, ele me fez ver um povoado, habitado por negros. Suas casas eram de palha e estuque em forma circular. Ao centro, uma delas era muito grande. Ali reunia-se os sábios daquele povoado.
Então meu mestre disse:
- Este povo aprendeu com o Rei Salomão, muito de suas sabedorias, e por séculos, eles vêm passando o que aprenderam de pais para filhos, para que estes ensinamentos não se percam. E entre as suas leis, um das mais severas é aquela que se aplica ao perdão.
Eu estava simplesmente encantado com o que via diante de mim. Um pouco ao lado da grande casa, toda a população do povoado caminhava em fila na direção a grande casa de palha, e a frente desta multidão, se destacava um grupo de pessoas dos demais.
Então meu “mestre” continuou sua narrativa:
- Um dos habitantes deste povoado cometeu um lamentável crime, e este crime foi o de tirar a vida de um dos filhos desta família que vem a frente da população, para assistirem ao julgamento daquele que cometeu tal crime. Ontem, às vésperas deste julgamento, cuja pena é irremediavelmente a morte, houve um grande banquete. Muita bebida, comida e dança aconteceu como comemoração do julgamento. Mas agora chegou o momento do criminoso ser julgado.
Então eu vi saírem da grande casa, alguns homens idosos, e a frente deles, dois homens com lanças nas mãos, mantinham entre eles um negro amarrado. De imediato eu entendi que se tratava do criminoso. Formaram um semicírculo diante da família da vitima, e um dos anciãos tomando da palavra e disse:
- Este homem – apontou para o prisioneiro – cometeu um crime ao tirar a vida de seu semelhante. Este crime tem como pena, a morte. Porém, ele poderá não sofrer esta penalidade, se a família da vítima o perdoar. Contudo, se ela assim fizer, terá que vestir luto pelo resto da vida com todos os seus familiares, e nenhuma pessoa deste povoado poderá mais dirigir-lhes a palavra. Mas mesmo assim, não basta para que o criminoso não receba a pena de morte, pois a lei tem que ser cumprida. Se a família da vítima o perdoar, e quiser mesmo que ele viva, ela terá que alimentar o criminoso, dar-lhe condições de morada, e nunca deixar que nada lhe falte pelo resto da sua vida. Mas mesmo assim ainda não bastará para que a pena não seja aplicada a ele, pois a lei tem que ser cumprida, e a pena para quem comete tal crime, é a morte. Por tanto, mesmo com o perdão da família, e ela se sujeitando a tudo que já foi dito, ele será jogado ao rio, amarrado para que a pena seja cumprida, pois a pena para este crime é a morte. Entretanto, para que a pena seja anulada, e o perdão poder ser usado na sua grandiosidade, e se a família o perdoar de verdade para que lhe seja poupado a sua vida, como o verdadeiro perdão, um dos membros da família deverá se atirar ao rio, e o desamarrar salvando-o da morte. Só assim o perdão poderá ser efetivado, e o criminoso estará perdoado estará livre da morte, mas a família terá que viver na obediência de tudo que a lei reza como já foi antes anunciado, para que o perdão seja efetivado.
***
E assim eu tomei conhecimento de como é grande o poder do perdão. Que deveremos tomar para nós este simbolismo, como exemplo da grandeza ao perdoarmos a quem nos ofendeu. Que o perdão possa vir com a realização plena de que estamos dispostos a dar a quem perdoamos, a chance de uma vida digna, não importando o que ele tenha feito, pois ao perdoarmos, tudo que ele fez contra nós deverá ter realmente cessado.
Paz Profunda.