Uma crônica do Silêncio e da Paz

Me surpreendo, no meio do dia, com um silêncio indescritível. Cães não latem, crianças não gritam e nem fazem a algazarra de costume, carros não circulam na rua .... nenhum barulho ... tudo à minha volta é silêncio.

Os muros das casas são altos, mas eu olho e vejo uma árvore centenária com as folhas balançando no vai e vem da brisa. Não há calor e nem frio dentro de minha casa, mas eu adivinho que o sol está forte, pois a sua luz é intensa.

A sala, o sofá, o livro “Morte em Veneza”, os óculos no rosto. Eu estou deitada, lendo, em meio ao silêncio que chega a ser divino. Só falta uma música de Bach. Ah, como gosto do Bach!

A paz é tão intensa que as letras se embaralham e eu paro de ler, pois só quero sentir este momento único em minha vida. Sei que é só um instante, concedido por alguma fada que passou no céu e com sua varinha de condão falou: “Que haja Paz e Silêncio!”.

E o mundo obedeceu!

Sinto o torpor indescritível do morrer nos braços dos anjos, o silêncio do nirvana, a paz búdica, a energia de Oxalá.

É a Paz da consciência tranqüila, de quem nada teme e nem deve. Dos que realizaram uma grande parte do seu carma e recebem, dos céus, o direito de sentir a Paz do dever cumprido.

Somente escuto a música da vida, doce e silenciosa.

O silêncio Joanino: Oh, Deus!

O silêncio Vicentino: Oh, Pai!

A luz da Oxum, cheia de amor e plena de Paz. A unidade com o infinito. A ausência de pensamentos e de sentimentos, o Nada!

A Paz dos que, um dia, pairaram no firmamento, em posição de lótus, sob a proteção e energia de Oxalá. Uma sensação em que não existem palavras que possam descrevê-la.

A Paz das bocas fechadas. O Silêncio das energias elevadas. O vento de Iansã percebido pelo leve balançar das folhas, como se quisessem mostrar que hoje ela está calma e serena. Hoje não há motivo para que ela se exalte trazendo seus raios, tempestades e ventos fortes.

A energia silenciosa dos grandes avatares, de Aruanda, de Vrindavan.

E no meio disso tudo, sinto o fervilhar de tudo no que acredito e que venero.

Buda,

Oxalá,

Krishna,

Zambi.

Paz,

Silêncio,

União com o Cosmos.

Sem som,

Sem sensações,

Sem sentimentos,

Sem pensamentos,

Sem dores,

Sem alegrias,

Sem angústias,

Sem ansiedade,

Sem nada.

O NADA que guarda a Paz e o Silêncio.

Paz ...

Silêncio ..

União com o Cosmos.

Que essa sensação possa sempre me acalentar nos momentos em que eu precisar do nirvana.

Emar Vigneron

Campos dos Goytacazes – 18:09 horas – 17 de setembro de 2013

Emar
Enviado por Emar em 17/09/2013
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