Notícia que ninguém queria ouvir
Porque fomos acordados no meio da noite e ouvimos a notícia que ninguém queria ouvir. Porque custamos acreditar e repetimos durante os dias seguintes que a ficha ainda não havia caído, e talvez nunca caísse. Porque todas as pessoas com quem conversávamos estavam com o mesmo choque. E todos começaram então a lembrar histórias, vivências em comum, ternuras compartilhadas, recusando-se a acreditar que nada daquilo poderia acontecer outra vez. Porque até quem não conhecia de repente ficou triste e também sentiu um pouco daquela dor. Porque foi absolutamente inesperado, abrupto, brutal e violento. E não fazia parte da ordem natural das coisas.
Porque, afinal de contas, trata-se de jovens, gente que ainda estava formando a sua trajetória, tateando o mundo, descobrindo a si mesmo. Essencialmente, porque nos parece injusto, e porque temos a impressão de que tudo o que foi vivido até ali foi em vão. Imagine, passar uma vida dentro da escola, todas aqueles dias ensolarados, aprender aquelas fórmulas químicas, equações de segundo grau, regência verbal e nominal, estrutura e organização do sistema feudal, células diploides e haploides, e não aproveitar isso para nada, para absolutamente nada, porque não houve tempo, porque foram interrompidos no meio do caminho.
Porque a gente fica desconsolado vendo os planos que não chegaram a se realizar. Porque eles queriam apenas passar algumas horas agradáveis no fim de semana. Porque as estradas são ruins e mal sinalizadas, porque alguém agiu com imprudência e fez uma ultrapassagem indevida, ou porque alguém não fez a manutenção adequada e o freio não funcionou. Porque a gente fica pensando no que poderia ter sido feito e não foi, e no acaso que fez com que eles, e não outros, estivessem passando por ali. Porque a gente sempre procura um culpado, uma explicação lógica, e mesmo quando encontra não adianta muita coisa. Porque a gente pensa nos pais.
Por tudo isso é que toda uma cidade fica de luto.