Avany

Hoje 16/09/2013, vou elegê-lo como o dia de fortes lembranças, pois ontem ao chegar em casa do culto vespertino recebi a notícia do falecimento de Avany Manhães. Mas quem é essa pessoa que me faz ter fortes lembranças?

Avany morreu aos 81 anos, idade só revelada após a sua morte, pois Avany não revelava a idade nem sob tortura; morreu dormindo, coisas do grande Deus, pois ela foi acometida por paralisia infantil aos cinco anos de idade, mas por ser filha de militar, sempre contou com bons cuidados, estudou em excelentes colégios, casou, teve dois filhos e apesar da sua deficiência era alegre, atualizada. Andava apoiada em aparelhos, ia a shows, teatros, jantava fora, tinha vida normal. Tive oportunidade de vê-la lavando o banheiro da sua casa, mesmo tendo empregada para fazer esse serviço, mas talvez por causa da sua deficiência, lavar o banheiro representasse para ela ser mulher que tem responsabilidades com o seu lar como qualquer outra. Eu ainda pequena lembro-me de seu pai o “seu Manhães” como todos o chamavam e que nesta época já era almirante e proporcionou a Avany todos os direitos de uma pessoa normal. Trazer à memória todos esses fatos é uma forma de também lembrar da generosidade de Avany. Minha mãe costurava para a família inteira e eu ainda criança por volta dos meus onze anos acompanhava minha mãe e lembro-me da primeira vez que fui a casa dela aqui no Grajaú, parece até que estou vivendo tudo agora. Saía de casa sempre muito bem recomendada, então chegar a casa de qualquer freguesa da minha mãe, era ficar quietinha enquanto ela tirava medida, ou provava a roupa, e eu era quietinha mesmo, depois de alguns anos é que eu me tornei expansiva, falante, cômica, mas nessa época eu era caladinha. Mas recordando esse dia, ao chegar a casa da Avany e sentar no sofá para aguardar a minha mãe, eis que ela manda Rachel, uma afilhada da mãe dela que morava com a família me dar uma revista para ler enquanto esperava minha mãe, e para minha surpresa era a revista Amiga - revista badaladíssima, corresponde hoje a revista Caras- edição da semana. Gente! Nesta época só quem comprava revista eram as pessoas de excelente poder aquisitivo, comprar revistas nesta época era coisa de rico. Eu fiquei fascinada com a novidade e avidamente comecei ler a revista, e a partir desta data toda vez que íamos lá tinha a revista Amiga, e mais tantas outras para eu ler, quando chegava falava com todo mundo da casa e elas já falavam: vai lá pegar as revistas para você ler, e eu ia no escritório pegava as revistas, sentava na sala como se fosse uma madame e a empregada ainda vinha me servir suco com biscoito na bandeja, era o máximo! Eu ficava lendo as revistas na maior alegria. Elas faziam muita roupa, quase toda semana estava eu lá junto com minha mãe. No meu colégio era eu que sempre informava o que estava rolando no meio televisivo, e ainda depois de ler as revistas que trazia para casa dava para as colegas da escola, pois quando minha mãe demorava um pouco mais a ir lá e esse um pouco mais nunca passava de um mês, Avany e Rachel guardavam as revistas, eu as trazia para casa na maior felicidade. Relembrar todo esse carinho que elas tinham por mim, emociona-me. O relacionamento transformou-se em uma grande amizade e nessas excelentes lembranças. Fiquei triste com a sua morte, tanto ela quanto Rachel, já falecida, proporcionaram-me momentos tão legais naquelas tardes em que eu acompanhava minha mãe. Tempo bom esse, que está eternizado na minha memória.

Hoje graças a Deus eu tenho dinheiro para todas as revistas que eu quiser adquirir, vida muito diferente daqueles tempos, que não eram de pobreza, mas não cabiam supérfluos.

Dalva dos Santos
Enviado por Dalva dos Santos em 16/09/2013
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