Banca de jornal

Você sabe, hoje em dia as bancas de jornais quase não vendem mais jornais. Revista então nem se fala. O que vende mesmo é o cartão azul. É o que autoriza um homem a deixar o seu cavalo de rodas quietinho numa das ruas de São Paulo. Mas uma banca de jornal nunca é apenas uma banca de jornal – é ela e sua circunstância. Vejamos o caso desta banca na Rua Santa Izabel. Pequena, como soem ser as bancas de jornais. Nela trabalham mãe e filha. Ao redor há todo tipo de comércio e os seus proprietários se conhecem, de tanto dividirem a mesma calçada.

Isso não significa que mantenham relações amistosas. O dono da lanchonete ao lado, por exemplo. Vive arrumando confusão com as mulheres que trabalham na banca de jornal. Ah, se fosse com homem! Queria ver se teria essa coragem toda – assim diz a mãe. Esses dias mesmo o dono da lanchonete, por pura ruindade, passou a vender cartão azul a um preço bem mais em conta. Escreveu o anúncio a mão numa geladeira. De vez em quando acontecem bate-bocas feios.

A filha por vezes se cansa de ficar dentro da banca e sai para a calçada, se encostando em um dos carros estacionados – isso também já deu muita confusão com os motoristas. Teve também o caso daquele carro que estacionou e deixou o funk ligado no último volume. E existem também aquelas pessoas que fazem questão de ficar paradas justamente em frente à banca, dificultando a passagem de clientes em potencial.

São alguns dos problemas que vive esta banca de jornal. Também há coisas boas, evidentemente. Belinha, por exemplo. Belinha é uma vira-lata que vive na rua da banca e sabe ser superiora aos veículos, exigindo que diminuam a velocidade. E há também as pessoas que de vez em quando aparecem para bater um papo, e acabam ficando muito tempo, e quando se vê já é hora de fechar a banca, e então gentilmente se convida essa pessoa para tomar uma sopa na casa delas – na casa dessas bravas mulheres que, sozinhas, à espera de sorte melhor, mantêm uma banca de jornal.