A chuva encharcava o meu pensamento, quando eu o vi.
Ele estava parado na esquina os olhos buliçosos e os lábios esboçavam uma sinceridade. Eu o perscrutei como quem põe um inseto na lupa. Os pés pequenos que contavam longas histórias de caminhos antigos e das ruas cujos nomes foram apagados, dos lugares que o tempo engoliu. Trajava calça branca com listinhas finas, camisa azul de botões e boné listradinho.
E, como um encanto, descobri nele uma antiga lembrança, que havia se perdido na minha vida adulta, voltei ao sítio São Francisco, a casa branca de varanda e cheguei ao quarto das invenções.
Era o estúdio do meu avô materno, “Seu Francisco”, eu chamava de vovô Chico. Um homem criativo, de cabelos densos e azulados, mãos trêmulas e o sorriso sincero. Ele não desperdiçava nada, fazia novo uso de algo velho, criava algo inusitado. Meu irmão herdou dele esses “genes de professor pardal” e eu herdei toda a saudade.