É nós, É noiz, É noise
Olhando de cima é um tapete de pessoas que não termina. O público do Rock in Rio.
De dia ou de noite a língua inglesa penetra sorrateiramente em nossos lares, em nossas cabeças. No Rock in Rio dá-se uma invasão. Penetração total e contundente. Mas há bandas cantando em português, felizmente. Nem tudo está perdido, Policarpo Quaresma.
Na verdade, não é o inglês que penetra sem compaixão. É a música, que é universal. Mas o inglês americano também quase que é. Assim como o dólar.
Apesar de tudo, seria muito difícil acabar com o português. Uno, em que pese as suas inúmeras variações regionais e a extensão do nosso território. E que cresce com o país, apesar de todo tipo de corrupção.
No meio da transmissão pela TV, um cara vem e diz, provavelmente através do Ipad ou do seu smartphone: “Mt. Maneiro este Rock in Rio. É difícil segurar esta vibe?” O que é vibe? Por favor, criem logo um dicionário de termos, não necessariamente em inglês ou informáticos, recentemente criados e usados pelos mais jovens.
Bacana ainda são as variações dentro do rock. Provando que é um tipo de música que não para de evoluir. De certo modo, reconhecemos também variações no samba. Temos o samba-canção, por exemplo. E a marcha, depois que o cronômetro se impôs aos belos sambas-enredo quilométricos das Escolas de Samba em outros Carnavais.
Possivelmente 20 ou 30% das canções ouvidas ou a serem ouvidas neste Rock in Rio nada teriam a ver com o verdadeiro rock, segundo os mais ortodoxos. Mas o rock não é como o chorinho, o baião, a valsa, o forró, modalidades de música aparentemente fechadas e que não admitem tantas inovações, poderiam dizer os estudiosos.
E o que dizer do impacto do Rock in Rio na Barra ou na cidade? Um empreendimento destinado a render dezenas (ou centenas?) de milhares de dólares a seus organizadores. Muitíssimo mais que as lojas do antigo Rei da Voz.
Milhares de agentes de trânsito de verde ou azul, guardas municipais, PM’s, viaturas oficiais. Auspicioso mercado de trabalho surgido de repente para punguistas, batedores de carteiras e bolsas ou ladrões em geral. Motocicletados, de carro ou a pé. Que vêm de todo canto da cidade, não com os mesmos objetivos dos que se acham atraídos pela velha mística do rock’n roll.
Sem falar nas dezenas de prédios de condomínios como o Rio 2, Cidade Jardim e outros nas imediações. Cada um desses blocos com cerca de 15 pavimentos e, no mínimo, 10 apartamentos por andar. Todas as unidades com crachás para que seus carros possam chegar em casa, tendo que passar pelos logradouros (interditados) de acesso ao Rock in Rio. Se existirem 50 blocos na área (provavelmente serão mais), teríamos cerca de 7500 crachás. Que foram providenciados, provavelmente pela organização do Rock in Rio, para serem distribuídos a cada unidade.
Só isso nos dá uma ideia de como é caótico o trânsito na Barra. E não há BRT que dê jeito. Primeiro porque não existem apenas 50 prédios de 10 andares na Barra. E depois porque quem anda de BRT está doido pra andar de carro assim que puder. Mas isso é uma outra história.
Por ora, deixemo-nos ficar com a Beyoncé. Ou pelo menos com aquelas lindas pernas longas e morenas.
Rio, 15/09/2013
Aluizio Rezende