Eu odeio o jeitinho brasileiro
Sim, eu odeio o tal jeitinho brasileiro. Sinceramente, não vejo vantagem alguma nesta “característica nacional” que muitos se orgulham em fazer parte. Jeitinho brasileiro é a habilidade para resolver problemas através do improviso e criatividade. A partir desta definição, até parece boa coisa. Eu seria muito hipócrita se dissesse que não gosto de certas facilidades. Que mal há em se fazer um precinho camarada para um conhecido, em pagar a conta para um amigo, a fim de que ele não enfrente aquela fila medonha, por exemplo? No entanto, não consigo ver uma conotação positiva.
Refiro-me aqui a um triste construto cultural em que se faz apologia à malandragem, em levar vantagem em cima dos outros. É a total falta de ética, é fraudar a lei, auferir privilégios em benefício próprio. É a famosa gambiarra. É eufemismo para descaramento mesmo. É utilizar, com orgulho, daquelas tradicionais frases da malandragem: “vai que dá”; “todo mundo faz”; “poxa, seu guarda”; “não dá nada”; “sabe com quem está falando?”- com quem mesmo?eheheh.
Engraçado que, geralmente, quem faz uso destas frases é a mesma pessoa que costuma burlar a fila, sim, aquela que estaciona o carro em local proibido, que incendeia índio, que agride professor, que joga ovo nas pessoas da parada de ônibus, pois está em seu belo carro, é o bajulador de patrão, é quem humilha os menos favorecidos, e que certamente, em um cargo político, desviaria o dinheiro público e aumentaria o rol da corrupção no Brasil. E isso independente de região, de origem. Tem a ver com caráter mesmo. Este, ou se tem, ou não se tem. Simples assim.
O grande nordestino Nelson Rodrigues já dizia: “brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem”. Pode ser. Se Narciso acha feio o que não é espelho, o brasileiro parece achar feio o que é espelho. Eu ouso ir além. Acredito que isso tenha mudado um pouco, frente a todas essas manifestações ocorridas em solo nacional ultimamente. É como se o brasileiro estivesse mostrando que quem manda aqui é ele. Chega de impunidade. Chega de imundície. Chega do jeitinho que faz parte daqueles que são pagos para lutarem em prol dos interesses do povo. Ao invés disso, utilizam de seu poder e prestígio para beneficiarem a si próprios. O brasileiro está descobrindo que o seu lado avesso, na verdade, é o lado certo. Está começando a gostar de ver sua imagem refletida no espelho. Que bom.
Infelizmente, ainda há o resquício daqueles que sentem vergonha do que vêem. Esta é a única interpretação racional-lúcida que consigo fazer do Sr. Gustavo Zanelli frente ao seu infeliz momento de “incivilidade”. É muito prefixo in para uma pessoa só, eu sei, mas foi a única leitura plausível que pude fazer de alguém, supostamente conhecedor da lei, externar seu pensamento tão preconceituoso, racista e anticidadão – lá vem eu com prefixos de negação novamente... É alguém que odeia a si próprio, mas quer demonstrar o contrário ao atacar um povo de quem ele mesmo se serve, na tentativa de se sentir superior. É mais um que se apodera do jeitinho brasileiro, pois acha que pode falar e fazer o que quiser porque “não vai dar nada”.
Para esse tipo de brasileiro, o Sr. Rodrigues também tem uma frasezinha pertinente: “Adora reclamar do Brasil, mas na hora de melhorá-lo...” Em vez de criticar, por que não sugerir soluções sensatas para os infortúnios do país, já que ele é tão superior? Pelo contrário, demonstra total despreparo para exercer a advocacia, total desinformação acerca de história, geopolítica e ética (disciplina forte no exame de Ordem, como foi que ele passou?ehehe). É por isso que eu odeio o jeitinho brasileiro.