A MENTIRA E A CONSCIÊNCIA.

Leio excelente artigo do não menos excelente Gustavo Ioschpe. Lista o sentido ético de sua vida e lições de seu pai, que o fez respeitar acima de tudo as regras de correção, de civilidade e a todos. Vejo na figura de sua paternidade elogiada a de meu pai. Não é difícil concluir que os frutos de uma árvore têm o sabor da terra da qual cresceram.

Ioschpe diz que se sente deslocado no Brasil atual. Sinto o mesmo, sem querer ser melhor ou mais virtuoso que ninguém, mas falo de ética que parece não mais existir.

O educador Ioschpe situa a consciência de quem é um violador das regras, como se sentiria (?), se no inferno, como dizia Sócrates reportado por Platão, ou nada sente de censurável como para Hannah Arendt: “OS MAIORES MALES NÃO SE DEVEM ÀQUELE QUE TEM DE CONFRONTAR-SE CONSIGO MESMO. OS MAIORES MALFEITORES SÃO AQUELES QUE NÃO SE LEMBRAM PORQUE NUNCA PENSARAM NA QUESTÃO.”

Já disse algumas vezes, formalmente, que os sinos da consciência irão bater um dia na mente do violador, de alguma forma, ainda que achem sadias suas opções, como “os meios justificam os fins”. Há um momento em que surge uma tal reprovação, venha de onde vier, quase sempre pública para o homem público, e se abate sobre o violador ou sua família, impedindo mesmo o ir e vir. Neste momento o exame de consciência é impositivo. Ao que levará é processo de foro íntimo.

Não há dúvida de que enquanto “NÃO APANHADO” o violador, como diz a filósofa e socióloga, não pensa na questão, vive folgadamente sem preocupar-se com sua opção, nem mesmo conhecendo valores universais conquistados, só os seus são os melhores, lhes traz enormes benefícios em detrimento dos direitos de muitos outros, mesmo achando o violador, admita-se por absurdo, que está fazendo em benefício coletivo, Hitler e Mussolini pensavam assim, também tinham seus valores, ideais.

“Os escroques também dormem tranquilos”, o medo de desprezar a si mesmo não funciona para o violador, pois com facilidade o homem pode mentir para si mesmo, lembra Hannah citando Kant. Todo corrupto, fraudador, todo ser humano que está à margem das regras tem uma explicação para si mesmo sobre sua conduta, conhece-a como legítima,

Mas observo com tranquilidade que a paz pessoal, que se reflete na paz jurídica, não acontece quando por exemplo, aqueles que podem ter tudo materialmente por força das violações, perdem a tranquilidade do ir e vir, e seus maiores sonhos de poder, como ascenderem a cargos políticos maiores. Olhem em volta no momento o que acontece com processados e outros que estão sitiados em suas casas. Uns queriam ser até Presidente da República, outros governadores, etc, estão com direitos políticos cassados, outros nem mesmo podem sair com tranquilidade de suas habitações, e seus familiares são atormentados.

É A HORA DO EXAME DE CONSCIÊNCIA. Penso entre Platão e Hannah Arendt, mais com Kant, se naquele há uma certa inocência, no entendimento da filósofa, que respeito maximamente, existe o total afastamento da responsabilidade projetada, considerado momentaneamente. Kant situa melhor esse estado de coisas, pois quem mente para si sabe que está mentindo, "pensa na questão", e a mentira um dia traz cobranças.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 15/09/2013
Reeditado em 15/09/2013
Código do texto: T4482651
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