Reflexões sobre dois episódios de salvamento
Ontem, no sábado, salvei mais uma moça de afogamento; junta-se a pelo menos outras 6 pessoas que lembro ter ajudado a sair do mar. Na quinta-feira, apenas 2 dias antes, tinha retirado uma outra.
Não entendi o que aconteceu ontem, mas o mar estava bem tranquilo, e a moça relativamente longe da areia sem saber nadar. Depois de mim chegaram mais dois, e a tiramos conjuntamente, foi bem simples.
Dias antes, o mar esteve bem agitado; acredito que a outra moça tenha sido levada pelas águas para onde não desejava, a corrente era forte. Apesar disso, teria bastado a ela se jogar nas ondas, as águas a trariam de volta para a areia, já que o mar estava enchendo; só faltou coragem. Frequentemente, o que dificulta a saida da água é a falta de coragem; o pavor causado pela onda subsequente impede o prosseguimento em direção à areia; como as ondas sempre se sucedem...
Ambos os episódios, assim como vários outros já vividos por mim, me trouxeram à lembrança a história de um filme baseado em sucessivos episódios de reencarnação. Tendo salvado a vida um do outro, os personagens permaneciam entrelaçados ao longo de muitas vidas, gratíssimos, séculos após terem tido a vida salva um pelo outro, retribuindo o favor recebido mesmo trancorridos milênios.
No mundo real essa gratidão costuma perdurar menos que o tempo de saída da água. Antes mesmo de chegar à areia, assim que os pés alcançam o solo, a pessoa costuma se aprumar, e avaliar sua própria situação. Muito provavelmente, os olhares dos circunstantes farão com que a vergonha supere a gratidão. Somos assim.
Apesar disso, não me furto de, eu mesmo me autoproclamar herói, alardeando meu próprio feito aqui, entre um ou outro disfarce literário. Também sou assim ;-)