Genética...História para ser lembrada...
Já vi brigas homéricas entre irmãos por herança. Ali estavam eles, feios, completamente pelados, olhos saltados, abertura horrenda no rosto num engasgo repulsivo ao regurgitar a comida. Um tentando tirar mais da mãe do que o outro.
A genética essa devoradora de corpos mostra toda a sua força, entre eles! Um possui a espinha dorsal em forma de S, outro, os pés são plantados como os do caipora, calcanhar pra frente, dedos para trás, o terceiro (ou melhor, a terceira, ou seria, terceiro?), com dedos dos pés remontados..., verdadeiras aberrações da natureza, mas, aos olhos do pai e da mãe... lindos, feios..., mas, tão lindos..., lindos..., mas, tão feios!
No enovelar da roca das irmãs moiras os dias passam para todos, inclusive para os irmãos da dona genética.
“Eu não quero ficar com nenhuma dessas coisas aqui em casa!” Coração empedrado!
Movimento intenso durante a passagem de cada estação, o colorido da roupagem de cada um deles espelha um arco-íris no espaço em que estão crescendo. Como pode... daquelas coisas horrendas despontar tanta formosura?! Ah! Já sei! É o cuidado que lhes são dispensados: água fresca, comida balanceada, vitaminas, enfim, criados a pão de ló, como diria a minha avó Irene no alto da sua sabedoria fornecida pelos anos bem vividos em experiências.
O zoar nas flores espanta a estiagem para carregar entre as nuvens os vidrilhos transparentes formando delicadas gotas que vão engrossando e caindo como chuva, limpando as nefastas partículas de poeira, jogando um balde de água fria no fogo devorador de matas e vidas..., tudo fica mais leve, mais perfumado, exala o cheiro da terra nas narinas de todo vivente. Aqui ou ali um trinado carrega as emoções de quem esta à espera de algo novo... tempos de acasalar.
E cada um deles desenvolve um canto de fazer inveja ao maior dos cantores operísticos... maior em tamanho da numeração do manequim, contudo, é na potência da voz, o dom de maior valor de cada um deles... A surpresa fica por conta da área feminina, o seu canto propaga questionamentos em quem o ouve ?!?!
“Mas, como isso é possível? Nunca tinha visto isto acontecer em tantos anos de criação? O erro do seu pai colocando o pai junto com a filha para acasalar modificou algo na carga genética desta encantadora criatura. Ele na sua caduquice conseguiu que uma fêmea de canário cantasse tão bem!”
A história desta fêmea confundida com um macho, batizada de Elvis Presley pelo seu magnífico topete vai ficar para outro dia. História para ser lembrada! Aguarde!