Celular

Essa semana fui a um bar me encontrar com amigos, beber umas cervejas, jogar conversa fora. É um bar badalado da cidade, lugar de gente bonita, gente jovem, pessoas animadas, música boa, enfim, ideal para relaxar uma sexta-feira. Cheguei mais cedo e me sentei em uma mesa no canto, lugar de onde eu podia ver quase todo o salão. Meus amigos ainda não tinham chegado e, enquanto aguardava, pedi uma água. O bar começava a ficar cheio. Na mesa à minha frente, um casal de namorados (ou noivos, ou coisa do gênero). O celular da moça tocou e ela começou uma conversa animada com alguém do outro lado. No mesmo instante o celular do rapaz também tocou e a conversa dele parecia mais animada que a da sua companheira. Do meu lado esquerdo, a mesa de repente encheu.Todos jovens, moças lindas, rapazes elegantes. A noite prometia, pensei. Meu pensamento nem bem se completou, uma moça sacou seu smartphone da bolsa e começou teclar. Certamente estaria chamando mais uma amiga para se juntar a eles. Sua colega do lado também tirou seu celular e começou a teclar furiosamente. Seria uma bronca no namorado que não foi? Enquanto isso, o casal que julguei serem namorados continuava a conversa com os respectivos interlocutores do outro lado. Na mesa uma cerveja, mas não haviam ainda tocado nos copos. A prosa estava realmente boa. Minha atenção agora estava dividida entre esse casal e os jovens na mesa do lado, para onde voltei minha observação. Já não eram duas com seus celulares, mas, pasmem, todos já estavam operando seus aparelhos luminosos. Tiravam fotos uns dos outros e de si mesmos. Acabei de postar, disse uma das garotas. Ai, ficamos lindas, gritou outra. Fiquei sem entender. Eles tinham ido ali para fazer ensaio fotográfico? Voltei-me para os namorados, na esperança de ver um abraço, quem sabe um beijo. Que nada, os celulares roubavam a cena. Nessa e na outra mesa. Confesso que fiquei assustado com o que vi. Pensava que ainda se usava sair com amigos para conversar, rir um pouco ou talvez se lamentar de um desgosto. Mas sentar-se num bar em plena sexta-feira em companhia de amigos para cada um exibir seus aparelhos ultra, mega modernos era para mim incompreensível. Será que o mundo deu um salto e eu fiquei para trás? Meus amigos ainda não haviam chegado, decidi ir-me embora para um lugar mais normal. Melhor: para minha casa, pois tive receio de encontrar a mesma cena em outro bar. Paguei a conta e saí, não sem antes conferir se não era um sonho mau. Não era, infelizmente, os celulares eram os protagonistas dessa sexta-feira. Confesso que não tive coragem de pegar o meu para avisar aos amigos que não me encontrariam ali. Será que sentiram minha falta? Acho que não. Se tivessem sentido, com certeza meu celular teria tocado sem parar.

Ftima
Enviado por Ftima em 13/09/2013
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