Satisfaction Guaranteed
Certa vez, Lennon ou McCartney numa entrevista, ou um dos quatro, manifestaram-se cansados da canção “She Loves You”, tal o número de vezes que eram obrigados a repeti-la. A sensação que passaram era a de que praticamente odiavam a música.
Podemos estar enganados, mas dificilmente Itamar Assumpção teria chances de odiar uma de suas canções. Diante da variedade de acordes, da inusitada melodia e harmonia e da suntuosidade da criação poética. O mesmo acontecendo certamente com os ouvintes. Não há, no nosso entender, a menor possibilidade de que nos cansemos de ouvir qualquer das músicas de Itamar Assumpção. Tal a descoberta de nuances que se dá com a repetição delas, seja nos acordes da guitarra ou violão, seja nas inserções do piano ou dos instrumentos de sopro. Todos perfeitamente compatibilizados com a criação artística.
Ouvir Itamar é se alegrar. Embora muitas vezes os temas, carregados de pesada seriedade, possam chegar talvez a estarrecer os mais desprevenidos. “Quem não vive, tem medo da morte”. Mas tem coisas também como “não sei se gosto de mim, não sei se gosto de você, mas gosto de nozes”. Só ouvindo e ouvindo e ouvindo. Ou lendo.
É evidente que Lennon e McCartney fizeram depois obras antológicas, responsáveis por um ponto de inflexão na bela história do rock. Mas “She Loves You” foi rapidamente superada, como serão provavelmente muitos raps ou funks que ouvimos hoje. O que não quer dizer que não existam raps ou funks dos bons.
“(I Can’t Get No) Satisfaction” (Rolling Stones) é também uma canção que talvez não nos diga tanto agora. A questão são as canções que vão continuar nos dizendo coisas durante muito tempo. São as canções não datadas. Aquelas que vão tocar as crianças de diferentes décadas ou séculos. Coisas do tipo “O Lago dos Cisnes”, “Bolero, de Havel” ou “La Traviata”.
Talvez seja incomparável o sucesso dos rapazes de Liverpool em relação ao de Itamar Assumpção. Mas não podemos nos esquecer de que a arte é como o cachorro. Não tem a mínima noção do poder econômico ou financeiro ou da cor do seu dono.
Rio, 13/09/2013