De Volta a Atlântida 


Estarrecido leio, em coluna de jornal, que os jovens lideram as cirurgias plásticas. O inconformismo brota precocemente no seio de nossa sociedade capitalista. Temos hoje o culto hedonista ao belo, ao perfeito, ao superficial, como um ícone essencial à intrínseca felicidade dos seres.

Ama-se o transitório como se permanente fosse. E a televisão, este veículo que tanto bem pode trazer, através do interesse fétido e tênue pelos índices maciços de audiência, estimula-nos a libido à flor da pele, o egoísmo em amplos campos, o amor ao perecível.

Vivemos em um mundo em constante transformação, e hoje, graça à poderosa escala que alcançou a indústria, ao fantástico número de habitantes humanos a poluir, a sujar e a maltratar a Terra, passamos por uma era das mais perigosas, e que até poderá ser a última, na história humana.

Os gregos cultuavam o belo, hábito posteriormente herdado pelos romanos que deturparam os conceitos entregando-se ao delírio de orgias febris. Os incestos, o adultério, além de outras práticas degradantes, eram vistas e aceitas com naturalidade. Foi neste ambiente hostil que as doces palavras de um nazareno encontraram terreno fértil para prosperar, pois, como se sabe, havia uma grande massa popular oprimida e que nos ombros suportava o desafogo selvagem das elites dominantes pelos anseios carnais.

No cenário atual o processo de inversão de valores, dentro de muitos países ocidentais, em particular o nosso, atravessa um estágio estarrecedor. Não sei quais as lições que poderemos tirar dessa fase, talvez ainda seja cedo para traçar um cenário a longo prazo, mas a nossa corrida coletiva para mostrar o que não somos, através de maquiagens exteriores, parece atingir o ápice. O consumismo é a nova crença que domina e aliena as massas. O respeito ao próximo e a busca por conhecer-se a si mesmo parece relegada a minorias. O hábito de pensar a própria realidade parece distante e relegado a círculos acadêmicos, como se fosse um segredo sepultado sob a efígie.

Espero que em breve acordemos para a realidade da vida e despertemos a nós mesmos, antes que os oceanos e terras se movam, engolindo toda a nossa civilização, tal como supõe-se tenha ocorrido com a Atlântida. Será ela um mito ou uma premonição coletiva do que ainda virá?