Manuscrito Filosófico de William Shakespeare da Silva

Há tempos que comecei a escrever um livro sobre o estudo da natureza humana. A verdade é que os meus escritos são sutis o suficiente para que qualquer um possa aprender com as reflexões aqui contidas.

Não chamaria de livro, mas um rascunho inacabado. Sendo assim, estive guardando os fragmentos desde minha adolescência, só alterando alguns fatos quando conveniente.

Hoje, tomei coragem e apresento meu quase sucesso (não considero um fracasso, jamais!). Quem quiser beber dessa fonte, que é nada mais além de um pequeno fragmento do homem que sou, está convidado a ler esses fragmentos.

Pode o leitor julgar um tanto imaturo a minha posição em certos episódios ou até mesmo a temática desencadeada pelo raciocínio inicial, mas todo o niilismo é necessário; ao menos nesse caso.

De nada falarei a meu respeito, o manuscrito pede que suprima esse pormenor que de nada é útil.

Reflexões, parte I

Infância - Ecos do Entardecer

Nunca gostei de andar de carro ou ônibus; tudo que chacoalha, mesmo que um pouco, tende a me afetar, mas acho que viajar sempre foi legal. Enjoando ou dormindo, as viagens de fim de ano eram especiais. Poder sair da rotina era divertido (hoje ainda é) se bem que quando se é criança, muito pequena, não há rotina, tudo é simplesmente diversão. Nem tudo, porém boa parte é.

Viajar para praia. Época essa que gostava de praia; corria e mergulhava naquela água salgada que recebera tantos e tantos banhistas, e talvez, animais. Sempre pessoas irão criticar piscinas, sempre, assim como as praias; pensemos qual das duas merece as críticas: Uma que recebe uma soma 'contável' de banhistas e passa por limpeza e higienização frequente, e a outra, que recebe gente antes da colonização e nunca fora desinfetada (erro ao dizer antes da colonização, logo, havia coisas nadando no mar antes mesmo do surgimento do homem), qual das duas parece ser mais digna? Seja como for, o dilema entre piscina ou praia sempre fez parte da vida de muita gente.

Assim mesmo, me divertia, sem contar com as condições de higiene que o mar me proporcionava. Durava uma tarde inteira. Brincando na água rasa; hora afundando, hora tornando a superfície, como nunca tive bons pulmões passava pouquíssimos segundos com a cabeça submersa à água.

Sempre havia outra criança de idade equivalente a minha e sempre brincávamos juntos. Diferentes sexos e idades; éramos crianças, crianças por acaso escolhem a idade ou sexo para se divertirem? Outra observação: Nós, os crescidos, adultos, sempre nos diálogos fazendo perguntas como "Qual a sua idade?", "Tem namorado (a)?" etc. Quando crianças, falamos de tudo e nada ao mesmo tempo sem saber sequer o nome daquele com quem conversamos. Com certeza, quando pequeninos ouvimos discursos magníficos de outrem da mesma idade. No presente, raramente temos bons interlocutores.

Nadando (ou imitando os movimentos do nado na beira da praia); correndo; cavando na areia molhada, pois facilita a construção de um castelinho de alicerce vacilante, isso na companhia de um coleguinha completamente estranho até os poucos momentos.

No fim dessas tardes, encarávamos a viagem de volta, poucas vezes nos hospedávamos em um hotel. O curioso é que, quando se está cansado reclamamos menos, o oposto do meu estado do início do dia, pura euforia. Enquanto o sol ia pouco a pouco desaparecendo, meu cansaço virava sono. Antes de amanhecer assistia a paisagem. Nada variava, tudo era mato. A movimentação dos outros carros e o ronco de seus motores. Via outras crianças assim como eu, enfadadas, olhando pela janela os outros carros, a espera da chegada de casa.

Olhando para os jovens adultos de hoje, vendo que com a idade deles aparento ainda ser mais infantil (além da aparência alguns outros hábitos de adulto que não tenho) e gosto de pensar se já foram crianças e como analisaram (se é que sou capaz de fazer) seus trejeitos, falas, olhares, e, ir moldando as suas figuras em minha mente.

As lembranças sempre são mais felizes que os fatos. Sempre iremos nos lembrar do presente em condições bem mais favoráveis que o presente, por sua vez, o futuro é sempre incerto.

Preferimos as coisas boas às más, e consequentemente, as boas se tornam ainda melhores e as más ainda piores. Sempre que busco uma temporada agradável em minha vida busco a infância; tenho certeza que os outros fazem o mesmo.

Alguém, se perguntares, terá uma fantástica história em que ele fora protagonista, essa história será muito provavelmente da sua infância. Talvez eu seja pessimista, mas lembranças felizes e alegres como essa da praia serão as mais felizes de minha vida e com certeza, da vida da massa que habita esse planeta.

Claro, formatura, primeiro carro e emprego (marco da independência financeira), casamento, nascimento de um filho, irão marcar um indivíduo pelo resto de sua vida, não se comparando nunca a infância.

Agora é que me lembro de um fator importante, crucial que quebra essa minha afirmação: E se os primeiros dias de uma pessoa não foram tão bons? Se achares que me refiro a separação ou morte de um de seus genitores ou até pais rigorosos que o proibiram de brincar na rua está enganado. Falo de pobreza.

Só uma infância muito miserável deve ser triste; não ter o que comer e vestir leva ao trabalho que leva ao amadurecimento precoce, aniquilando assim a infância.

Na ausência do último ponto, teremos as melhores recordações da nossa existência será a dos nossos anos inicias.

Paz: preencherá o resto das lembranças de alguma valia. Quando adultos perdemos sem perceber a calma; gradualmente surge a insônia que resulta no acúmulo de estresse (a insônia surge com o estresse que vai se agravando consequentemente), algumas vezes com toda essa negatividade surge a obesidade, chave para combater a depressão, quando não o consumo de drogas lícitas e ilícitas, a velha Happy Hour para relaxar os nervos. Então, quais são os momentos mais calmos que iremos procurar? Os dias de diversão estão fora do nosso alcance, décadas atrás, só os antigos momentos de paz nos trarão alguma paz.

Essas serão sutis, uma imagem simples pode nos trazer essa calma. Interessante como alguns pedacinhos de um quase esquecido bem-estar nos tira um sorriso, mesmo que tímido. A imagem desses fins de tarde me traz um quase alívio, sei que dias turbulentos se passaram (alguns lembro, em maioria), mas nenhuma dessas memórias tem tanto poder como os dias calmos, monótonos e, talvez pareça uma pilhéria, nostálgicos.

Ao chegar a casa depois de um dia duro no trabalho ou escola, jogar a bolsa ou pasta em um canto da sala e assistir um pouco de televisão, isso é um momento de alívio diário que passa despercebido à nossa percepção. Algum dia, perceberemos que esses instantes são valiosos. Busco, sempre que tenho chance, a seguinte recordação: Chegar em casa ao término das aulas e tarde, tirar o uniforme escolar e assistir desenhos animados.

O Anoitecer é precioso.

As lembranças de paz e calma inundam-me de nostalgia no fim do dia.

Ferreira Lima
Enviado por Ferreira Lima em 12/09/2013
Código do texto: T4479008
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