Numa daquelas pousadas clandestinas
Morava numa daquelas pousadas clandestinas da W3 Sul. Disse-me que estava ali há menos de uma semana. Antes morava de favor na casa de um amigo na Samambaia. Agora dividia um quarto apertado com um sujeito que conhecia vagamente, mas que estava muito interessado em dividir o aluguel. O ambiente da pousada era péssimo. Os moradores se encaravam desconfiados no corredor. Havia um único banheiro, muito sujo. Um dia voltou da igreja e encontrou seu quarto revirado. Os vizinhos haviam arrombado em busca daquilo que diziam ter sido furtado pelo seu companheiro de quarto. Seguiu-se uma briga generalizada que terminou na delegacia – e ele me frisou bem que nunca havia estado em uma delegacia.
Contou a sua versão, disse que não conhecia bem o seu colega, estava lá há poucos dias e não podia saber de roubos acontecidos antes disso. Por algum motivo os vizinhos foram com a sua cara e não o incluíram na queixa. A delegada disse: “Que amigos você tem, hein?”. Saiu da delegacia junto com o amigo e voltaram a pé para a pousada, onde pegariam suas coisas e partiriam. No caminho os vizinhos voltaram a aparecer e queriam abertamente dar uma surra no seu colega – apenas no seu colega, repetiram que contra ele nada tinham. E o ladrão foi então chutado na rua.
A polícia voltou e enfim permitiu que pegassem suas coisas e saíssem da pousada. Ele não queria, mas continuava junto do seu colega. Eram quatro horas da madrugada. Chamaram um táxi e foram pra casa de um amigo em comum no final da Asa Norte. Aquela hora era bandeira 2 e por isso deu mais de R$ 30. O ladrãozinho deu uma desculpa qualquer para não pagar e prometeu que depois acertava com o amigo. Só que o outro também não tinha dinheiro, e por isso pediu ao motorista que fosse até um caixa eletrônico para sacar.
Demoraram até achar um banco. Quando encontraram, abriu a porta e imediatamente o alarme disparou. Abriu os braços, resignado, olhou para as câmeras e esperou pela polícia.